O alicerce das eleições

(entre os diversos candidatos, qual ou quais dispõem de um alicerce sólido de propostas?)

Se um edifício tem uma fachada linda, paredes bem resistentes, pilares grossos, mas não tem alicerce, ninguém de bom senso se atreverá a morar nele.

Assim, há candidatos com muitas qualidades humanas: capacidade de administração, retórica, boas relações com o público, preparo intelectual, mas nenhum cristão pode votar neles se houver falhas no que há de fundamental: o respeito à vida e a família.

Não é nosso propósito falar aqui sobre as diversas propostas de governo moralmente aceitáveis. Por exemplo: se tal candidato pretende dar prioridade à saúde ou à segurança pública; se deseja aumentar a rede rodoviária ou, ao contrário, se prefere investir mais nas ferrovias; se quer socorrer as Universidades ou se pretende dar mais atenção ao ensino fundamental; se planeja prevenir a inflação ou se prefere, antes, a diminuição da carga tributária… Acerca de tais questões cada cristão pode ter sua opinião própria, e é livre para votar no candidato que lhe pareça mais apto a governar bem o país.

No momento, nossa atenção se fixará tão-somente nos alicerces, deixando de lado os pilares, as paredes, as vigas, as lajes, a cobertura e as fachadas, por mais atraentes ou por mais exóticas que sejam.

Na edição anterior, mencionamos as diretrizes para a elaboração do plano de governo do Partido dos Trabalhadores (PT), que incluem o propósito de descriminalizar o aborto e criminalizar a “homofobia” (rejeição ao homossexualismo) caso haja reeleição(1). Faltou mencionar que no mesmo 13° Encontro Nacional que aprovou tais diretrizes, foi aprovada por maioria uma Moção apresentada pela Secretaria Nacional de Mulheres, com apoio da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, versando sobre a descriminalização do aborto. De tal moção, extraímos o seguinte texto: “Assim sendo, exigimos que os/as parlamentares do PT que participam da Frente Parlamentar em Defesa da Vida – Contra o Aborto retirem seus nomes desse movimento [grifo nosso]. O acordo partidário em relação a este tema é de que respeitamos as decisões de foro íntimo, entretanto as posições e voto de nossos parlamentares não podem ferir princípios em defesa dos direitos das mulheres“(2).


Vejamos agora outros nomes cotados para a Presidência da República. O primeiro deles é Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, pelo PSDB. Apelidado de “picolé de chuchu” (em alusão a “sem sabor ou sem graça”) pelo colunista humorístico José Simão, da Folha de São Paulo, Alckmin respondeu em tom de brincadeira que, caso seja eleito presidente da República, “o Brasil vai crescer pra chuchu”.

Em seu favor Geraldo Alckmin tem o ódio das feministas. Vejamos como se refere a ele a Rede Nacional de Saúde e Direitos Reprodutivos:

ELEIÇÕES 2006: no tom e no ritmo ditado pelo Vaticano?
Prezad@s companehir@s,
Se depender do Vaticano, de Bush e da CNBB, sim. E por quê? E vamos permitir?
Não há surpresas. Era esperado que a Cruzada Anti-mulher do Vaticano e de seu aliado Bush contra os direitos humanos das mulheres desembarcassem com arrogância, força e cara limpa no contexto eleitoral 2006, que aparentemente os coloca em posição de vantagem.
(…)
Em primeiro lugar, a luta pelos direitos humanos das mulheres possui candidatura presidencial declaradamente inimiga: Geraldo Alckmin, do PSDB. O que é público e notório, desde sempre. Alguma dúvida?(3)

Também a revista Época, em sua edição n. 400, de 16/01/2006, gastou as páginas 62 a 71 só para difamar a Opus Dei e o então governador Geraldo Alckmin, que teria algum vínculo com aquela instituição(4).

De fato, Alckmin diz e repete inúmeras vezes que “o aborto não é a solução”. No entanto, seu discurso não se mostra firme. Dá a entender que é favorável ao aborto nos casos não punidos pelo Código Penal, e já chegou a dizer que em caso de anencefalia o aborto poderia ser “considerado”:

Folha – Sobre isso, o sr. estimularia algum tipo de avanço na legislação que hoje autoriza o aborto em determinadas circunstâncias?
Alckmin
 –
 Primeiro é preciso deixar claro que aborto não pode ser visto como meio contraceptivo. Planejamento familiar: isso é importante destacar. O aborto hoje é autorizado quando a gravidez decorre de estupro e quando representa risco para a mãe. Acho que mereceria ser considerado também nos casos da anencefalia(5).

Talvez por medo de perder a popularidade, Alckmin, interrogado sobre o preservativo disse: “sou a favor do uso“(6). E ainda afirmou não ter “nada contra” uma lei aprovando a união civil de homossexuais. É um contrato, eu respeito as pessoas e a maneira de elas viverem“(7).

Se o candidato é católico praticante, a ponto de causar pânico nos abortistas e de ser alvo de fortíssimas críticas pela imprensa, estaria na hora de ele não se envergonhar de suas convicções. Se não quiser fazer jus ao apelido de “picolé de chuchu”, precisa pôr tempero em sua fala a fim de conquistar o voto dos cristãos. “Se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens” (Mt 5,13).


Sal é o que não falta no presidenciável Enéas Carneiro(8), do PRONA. Sua linguagem é inflamada. Durante as campanhas anteriores, tornou-se conhecido pela repetição do refrão “Meu nome é Enéas!“. Deixando de lado as idéias do candidato em relação à economia, administração e relações internacionais, é forçoso reconhecer que ele tem um alicerce bem sólido nas questões relativas à vida e à família. Opõe-se energicamente ao aborto, sem qualquer forma de concessão, assim como ao “casamento” de pessoas do mesmo sexo. Cite-se como exemplo o final do discurso por ele proferido no dia 2 de março de 2005, quando os deputados estavam prestes a aprovar a destruição de embriões humanos pela Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005):

Aquilo que vai ser aprovado daqui a pouco, saibam os brasileiros, é assassinato de indivíduos já gerados. E o PRONA vota contra esse assassinato, nem que seja só com meu voto.
Muito obrigado.

De fato, o PRONA foi o único partido que se posicionou contrariamente ao art. 5° da referida lei — infelizmente sancionada pelo Presidente Lula — que permite a destruição de embriões humanos fertilizados “in vitro“.

Os abortistas costumam não levar Dr. Enéas a sério, talvez por achar que ele não tem chance alguma de se eleger. Mas convém lembrar que em 2002 ele foi eleito deputado federal por São Paulo com a votação recorde de 1,7 milhão de votos.

Anápolis, 10 de julho de 2006.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis


(1) Disponível em <http://www.pt.org.br/site/resolucoes/resolucoes_int.asp?cod=30>

(2) Disponível em <http://www.pt.org.br/site/secretarias_def/secretarias_int_box.asp?cod=851&;cat=213&cod_sis=16>

(3) ELEIÇÕES 2006: no tom e no ritmo ditado pelo Vaticano? Editorial. RedeFax – Número 12/2006 Informativo Eletrônico da Rede Feminista de Saúde. Ano 11 – segunda quinzena de junho de 2006. Disponível em <http://www.redesaude.org.br/2006/imgs/RedeFax12.doc>

(4) BRUM, Eliane; RUBIN, Débora. A vida íntima da Opus Dei.

(5) LO PRETE, Renata; SILVA, Fernando de Barros e. Alckmin diz não fazer política “na cotovelada”. Folha de São Paulo. Cotidiano. 18 dez. 2005. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1812200512.htm>

(6) Idem.

(7) GUIBU, Fábio. Alckmin diz ser a favor da união civil de homossexuais. Jundiaí. Jornal da Cidade. 29 jan. 2006. Fonte: <http://www.jornalacidade.com.br/geral/ver_news.php?pid=36&;nid=33250> Acesso: 29 jan. 2006.

(8) De acordo com informação do Tribunal Superior Eleitoral, o PRONA não lançou, desta vez, candidato à Presidência da República.

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