(até os peixes sofrem com o anticoncepcional lançado nos rios)
Quando o Papa Francisco escreveu a encíclica Laudato si, sobre o “cuidado da casa comum”, repudiou energicamente o controle demográfico como suposto meio para eliminar a poluição ambiental, criticou as pressões sobre os países em desenvolvimento para que estes adotem políticas de “saúde reprodutiva” como condição para receberem ajuda econômica (n. 50) e atacou especificamente o aborto como incompatível com a defesa da natureza (n. 120). No entanto, a coalizão internacional Voice of the Family (Voz da família) mostrou-se preocupada pela ausência na encíclica de uma condenação da anticoncepção e de uma reafirmação dos dois significados inseparáveis do ato conjugal: o unitivo e o procriador. Segundo Maria Madise, porta-voz de Voice of the Family, “as nações em desenvolvimento estão sendo inundadas de contraceptivos e sujeitas a pressões para legalizarem o aborto. Como a contracepção e o ambientalismo caminham tão frequentemente de mãos dadas, é profundamente preocupante que o ensinamento da Igreja sobre a primazia da procriação não seja reafirmado”[1].
Há, porém, um outro motivo pelo qual teria sido importante uma menção aos anticoncepcionais na citada encíclica. Os hormônios contidos na pílula, como o etinil-estradiol, acabam sendo excretados pela mulher e lançados no esgoto, de onde vão para os rios. Os efeitos de tais drogas sobre os peixes são simplesmente devastadores. Leiamos esta matéria jornalística de janeiro de 2013:
O descarte irregular de remédios pela rede de esgoto faz com que os peixes masculinos percam a capacidade de fecundar óvulos e, em casos mais graves, até desenvolvam ovas, característica feminina. Essa é a constatação do professor do Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Wilson Jardim, em uma pesquisa no rio Atibaia, que abastece 90% de Campinas.
[…]
Segundo Wilson, uma das grandes vilãs para a situação é a pílula anticoncepcional, que tem efeito direto nas glândulas sexuais nos animais. Dependendo da quantidade de substâncias, os machos têm reações que vão desde perder o interesse nas fêmeas até mudança no sistema reprodutor, com produção de ovas. ‘Já dispomos de estudos científicos que apontam que esses compostos têm causado sérios danos aos organismos aquáticos. Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar a feminização de peixe’, disse[2].
Esse fenômeno não é novo nem é exclusivo dos rios do Brasil. Em julho de 2004, uma matéria da BBC News intitulada “Poluição muda sexo de peixe” mostrava o mesmo problema na Inglaterra:
Um terço dos peixes machos em rios britânicos está em processo de mudança de sexo devido à poluição no esgoto humano, sugere uma pesquisa feita pela Agência do Ambiente.
Uma investigação feita em 1.500 peixes de 50 locais de rios encontrou que mais de um terço dos peixes machos exibiam características femininas.
Pensa-se que a principal causa sejam os hormônios no esgoto, incluindo os produzidos pela pílula anticoncepcional feminina.
A agência diz que o problema poderia prejudicar as populações de peixes, por reduzir sua capacidade de reprodução.
Ela disse que seu estudo destacou a necessidade de as companhias de água desenvolverem novos tratamentos.
Desde algum tempo tem havido preocupação de que os produtos químicos conhecidos como disruptores endócrinos estejam fazendo o peixe mudar de sexo.
Este último estudo é o primeiro a mostrar a escala do problema na Grã-Bretanha[3].
Mas os peixes não são os únicos atingidos. Os hormônios sintéticos lançados nos rios podem ser encontrados na água das torneiras das casas, mesmo após o tratamento. Quais serão seus efeitos sobre as pessoas?
Quanto aos humanos, prossegue Wilson Jardim, há indícios de que os contaminantes não legislados, especialmente hormônios naturais e sintéticos, como o estrógeno, podem provocar mudanças no sistema endócrino de homens e mulheres. Uma hipótese, que carece de maiores estudos, considera que esse tipo de contaminação poderia estar contribuindo para que a menarca (primeira menstruação) ocorra cada vez mais cedo entre as meninas
Há ainda um fato que pode estar relacionado à presença de hormônios sintéticos na água de beber: vários estudos mostram que, há décadas, tem havido uma queda na quantidade de espermatozoides produzidos pelo homem ocidental. Em 1992 um grupo dinamarquês publicou um estudo que mostrava o declínio da qualidade de sêmen num período de cinquenta anos (de 1940 a 1990)Um outro aspecto interessante [dos anticoncepcionais] diz respeito aos efeitos ecológicos devastantes das toneladas de hormônios despejados por anos no ambiente. Temos dados suficientes para afirmar que um dos motivos nada desprezível da infertilidade masculina no ocidente (com sempre menos espermatozoides no homem) é a poluição ambiental provocada pelos produtos da ‘pílula’. Estamos aqui defronte a um efeito antiecológico claro que exige ulteriores explicações da parte dos fabricantes.
Conclusão:
Quando em 1968 o Beato Paulo VI reafirmou, com a encíclica Humanae vitae, a proibição da anticoncepção, fez diversas profecias, que foram todas cumpridas: os anticoncepcionais abririam as portas para a infidelidade conjugal, a degradação da moralidade, a perda do respeito pela mulher (reduzida a simples instrumento de prazer egoísta) e tornar-se-iam uma arma perigosa nas mãos das autoridades públicas para impor aos cônjuges a limitação de sua prole
Anápolis, 17 de setembro de 2015.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.
Pollution ‘changes sex of fish’. BBC News, 10/07/2014, in: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/3882159.stm
Evidence for decreasing quality of semen during past 50 years. BMJ 1992;305:609, 12/09/1992, in: http://www.bmj.com/content/305/6854/609
Decline in semen concentration and morphology in a sample of 26 609 men close to general population between 1989 and 2005 in France. Human Reproduction, 4/12/2012, in: http://humrep.oxfordjournals.org/content/early/2012/12/02/humrep.des415.full.pdf+html