São Luís e Santa Gianna

(dois santos admiráveis em um mesmo dia)

S Luis Montfort TVDQuis a Providência Divina que no dia 28 de abril fosse celebrada a festa de dois santos: São Luís Maria Grignion de Montfort (1673 – 1716), propagador da escravidão a Jesus Cristo pelas mãos de Maria, e Santa Gianna Beretta Molla (1922 – 1962), mãe e mártir, que deu a vida para salvar sua filha.

Ambos os santos estão estreitamente ligados a outro santo, o Papa São João Paulo II, incansável defensor da vida e denunciador da “cultura da morte”. Em sua autobiografia “Dom e mistério”, publicada por ocasião do 50º aniversário de sua ordenação sacerdotal, assim se exprimia o Papa:

Houve um tempo em que, de certa forma, pus em discussão o meu culto por Maria, temendo que se dilatasse excessivamente e acabasse comprometendo a supremacia do culto devido a Cristo. Foi então que veio em minha ajuda o livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, o “Tratado da verdadeira devoção à Virgem Santa”. Nele encontrei a resposta às minhas perplexidades. Sim, Maria aproxima-nos de Cristo, conduz-nos a ele, com a condição de que se viva o seu mistério em Cristo. […]

Compreendi nessa altura por que é que a Igreja recita o Angelus três vezes ao dia. Percebi então como são essenciais as palavras dessa oração: “O anjo do Senhor anunciou a Maria. E ela concebeu do Espírito Santo… Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa palavra… E o Verbo se encarnou. E habitou entre nós…” Palavras verdadeiramente decisivas! Exprimem o núcleo do maior acontecimento da história da humanidade.

Também de lá provém o “Totus tuus”. A expressão deriva de São Luís Maria Grignion de Montfort. É a abreviação de uma forma mais ampla da consagração à mãe de Deus, que, completa, soa assim: “Totus tuus ego sum et omnia mea tua sunt. Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, MariaEm seu Tratado, São Luís afirma que os que se consagrarem a Jesus pelas mãos de Maria na qualidade de escravos “terão uma devoção especial pelo mistério da Encarnação do Verbo, a 25 de março”. E isso por dois motivos: “para honrar e imitar a dependência em que Deus Filho quis estar em Maria” e “para agradecer a Deus as graças incomparáveis que concedeu a Maria” (n. 243). Sobre a excelência do mistério da Encarnação, assim escreve este santo:

O tempo não me permite deter-me aqui para explicar as excelências e as grandezas do mistério de Jesus vivendo e reinando em Maria, ou da Encarnação do Verbo. Contento-me, por isso, em dizer, em três palavras, que este é o primeiro mistério de Jesus Cristo, o mais oculto, o mais elevado e o menos conhecido […]; que foi neste mistério que ele operou todos os mistérios subsequentes de sua vida pela aceitação deles: “Jesus ingrediens mundum dicit: Ecce venio ut faciam, Deus, voluntatem tuamSanta Gianna: mãe e mártir

Santa Gianna Beretta MollaNo dia 16 de maio de 2004, o Papa João Paulo II canonizou, isto é, incluiu no catálogo dos santos, a médica italiana Gianna Beretta Molla (1922-1962), que deu a vida por sua filha, preferindo morrer a praticar um aborto. Naquele dia, dizia o Santo Padre em sua homilia:

Seguindo o exemplo de Cristo, que ‘tendo amado os seus… amou-os até ao fim’ (Jo 13,1), esta santa mãe de família manteve-se heroicamente fiel ao compromisso assumido no dia do matrimônio. O sacrifício eterno que selou a sua vida dá testemunho de que somente quem tem a coragem de se entregar totalmente a Deus e aos irmãos se realiza a si mesmo.

Os heróis não se fazem de uma hora para a outra. Sua última decisão heroica foi preparada por uma vida cheia de amor a Deus e ao próximo. Gianna foi sempre um modelo de religiosidade. Nasceu em Magenta, Itália, em 1922, décima filha de um casal exemplar, Maria Micheli e Alberto Beretta. Amava a Santíssima Virgem com ternura filial. Trazia sempre no bolso ou na bolsa o Terço, que recitava todos os dias. Seu irmão, Padre Alberto, diz não recordar um só dia em que Gianna não se tenha aproximado da Eucaristia. A jovem tinha um ardor missionário. Desejava viajar para o Brasil e auxiliar o irmão padre, fundador de um hospital em Grajaú, no Maranhão. Deus, porém, tinha reservado outros planos para ela. Vejamos alguns de seus propósitos espirituais para conhecermos um pouco de sua alma:

1º Faço o santo propósito de fazer tudo por Jesus. Todas as minhas ações, todos os meus desgostos ofereço-os todos a Jesus.

2º Faço o propósito de, para servir a Deus, não querer ir mais ao cinema, se não souber se ele se pode ver, se é modesto e não escandaloso e imoral.

3º Prefiro morrer a cometer um pecado mortal.

4º Quero temer o pecado mortal como se fosse uma serpente, e repito de novo: antes morrer mil vezes do que ofender o Senhor.

Uma de suas orações lembra-nos a obediência e a humildade de Nossa Senhora: “Ó meu Jesus, prometo sujeitar-me a tudo o que permitires que me suceda. Faz-me só conhecer a Tua Vontade”.

Formada em Medicina e especializada em pediatria, Gianna sonhava em consagrar-se a Deus na vida religiosa e ajudar seu irmão, Pe Alberto, que trabalhava em Grajaú – Maranhão. Sua vocação, porém, seria a de esposa e mãe. Deus lhe preparara um santo marido, Pietro Molla, com quem se casou em 1955. Tinha então 32 anos. Ela havia entendido que toda vocação deveria ser fecunda:

Toda vocação é vocação à maternidade: material, espiritual, moral, porque Deus nos deu o instinto da vida. O sacerdote é pai; as irmãs são mães, mães das almas. Preparar-se para a própria vocação, preparar-se para ser doador da vida… saber o que é o grande sacramento do Matrimônio.

Após o casamento, Gianna sempre viu nos filhos algo a ser pedido, desejado e festejado. Como demorasse a engravidar, Gianna fez novenas durante três meses até obter a suspirada graça. O primeiro filho, Pierluigi, nasceu em 1956. Em 1957 nascia Maria Zita, em uma gravidez difícil. Em 1959 nascia a terceira filha, Laura, pós-matura, com quase um mês de atraso. São palavras de seu marido Pietro Molla: “Em cada expectativa, quanta oração, quanta confiança na Providência, quanta fortaleza nos sofrimentos! Em cada nascimento, que hino de ação de graças ao Senhor!

A quarta e a quinta gravidez de Gianna terminaram em aborto espontâneo no segundo mês, sem explicação aparente. Em 1961 ela se vê grávida pela sexta vez. Como médica, sabia muito bem as complicações e os riscos da nova gravidez. Mas isto de modo algum diminuiu o amor por este filho, amado e desejado como os outros. Dizia: “O médico não se deve intrometer… O direito à vida da criança é igual ao direito à vida da mãe. O médico não pode decidir. É pecado matar no seio materno!…” Um enorme tumor tomara conta de seu útero. Havia necessidade de extirpá-lo. Mas Gianna dizia: “a mãe dá a vida pelo filho”.

Depois de enormes sofrimentos, no dia 21 de abril de 1962, o cirurgião fez uma cesariana e retirou do ventre de Gianna uma criança de quatro quilos e meio. Era uma menina! Seu pai lhe daria no batismo o nome de Gianna Emanuela. “Gianna” em homenagem à mãe. “Emanuela”, que quer dizer “Deus conosco”, para louvar a presença de Deus entre os homens. Santa Gianna morreu no dia 28 de abril de 1962, uma semana depois de dar à luz sua última filha. Sua morte foi causada por uma peritonite.

No dia 4 de outubro de 1997, no 2º Encontro Mundial do Papa com as famílias, Gianna Emanuela, que hoje é médica como a mãe, estava no Rio de Janeiro, no estádio do Maracanã, na presença do Santo Padre e de 200.000 pessoas. Elevou uma oração a sua mãe Gianna Beretta Molla, agradecendo-lhe por lhe ter dado a vida duas vezes: pela geração e pelo martírio. O momento foi emocionante.

São José

A sombra da fugaNeste ano dedicado a São José, protetor do “Menino e sua Mãe”, convém recordar a frase do Papa Francisco na carta apostólica “Patris corde”:

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guardaPara nós, cristãos, o mistério da Encarnação, do qual São José foi guardião, é o motivo central de nossa luta em favor da inviolabilidade da vida humana intrauterina. Depois que o Senhor se tornou um embrião como nós, no seio da Virgem Maria, a gravidez adquiriu uma especial sacralidade. E o aborto, que naturalmente já é abominável, tornou-se uma guerra contra o Menino Jesus.

Que a meditação de tudo isso nos faça aumentar cada vez mais o entusiasmo em promover a cultura da Vida.

Anápolis, 3 de maio de 2021.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis

 

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