(a prudência e a simplicidade no trabalho pró-vida)
O evangelho de São Lucas, quando fala do bom uso do dinheiro, narra a parábola do “administrador desonesto”:
Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar dissipando os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isso que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não podes ser administrador!’ O administrador então refletiu: ‘Que farei, uma vez que meu senhor me retire a administração? Cavar? Não posso. Mendigar? Tenho vergonha… Já sei o que vou fazer para que, uma vez afastado da administração, tenha quem me receba na própria casa’.
Convocou então os devedores do seu senhor um a um, e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’ ‘Cem barris de óleo’, respondeu ele. Disse então: ‘Toma tua conta, senta-te e escreve depressa cinquenta’. Depois disse a outro: ‘E tu, quanto deves?’ — ‘Cem medidas de trigo’, respondeu. Ele disse: ‘Toma tua conta e escreve oitenta’.
E o senhor louvou o administrador desonesto por ter agido com prudência. Pois os filhos deste século são mais prudentes com sua geração do que os filhos da luz (Lc 16, 1-8).
No seu discurso apostólico, Jesus já havia dito: “Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mt 10,16).
Administrador desonesto: interpretação errada
Uma interpretação errada da parábola acima seria a de que o senhor, já tendo seus bens dissipados pelo administrador, louvaria novamente a este quando, depois de anunciada sua demissão, viesse a causar-lhe novos prejuízos, privando-o de receber parte do dinheiro dos devedores. Não faz sentido que o senhor, duplamente lesado em seu patrimônio, elogiasse o administrador por ter sido “prudente” na última lesão.
Apesar de errada, esta última interpretação é comum e perigosa. Ela serviria para se concluir falsamente que, diante de uma pequena fraude, um pequeno furto ou uma pequena mentira, Deus não consideraria tanto o pecado cometido quanto a astúcia com que ele foi praticado.
Ao enganar alguém pela mentira, a fim de salvar a vida de um bebê em gestação, seria mais importante o bom resultado – a vida humana salva – e a “louvável” habilidade de quem mentiu do que a moralidade da mentira – que é sempre máQuando alguém se fingisse de abortista para obter a aprovação de uma lei que restringiria a prática do aborto, Deus não se incomodaria tanto com a moralidade do fingimento ou da simulação formal – que é sempre máAté mesmo quem provocasse um aborto direto – cuja moralidade é sempre máA interpretação errada da parábola poderia levar, em suma, a um laxismo moral sem limites, a não ser os da própria imaginação.
Passo a passo…
Deveria Paulo anunciar abertamente Cristo ressuscitado em Corinto?
Ainda não. Veja-se o fracasso quase completo da sua pregação em Atenas, quando falou da ressurreição
Mesmo tendo recebido zombarias em Atenas, quando foi a Corinto, Paulo, em vez de atenuar, radicalizou seu discurso. Não apenas falou abertamente da RessurreiçãoDeveria a deputada Chris Tonietto apresentar um projeto de lei para revogar totalmente as cláusulas de não punição do aborto?Ainda não: o povo não está preparado. O resultado seria negativo. Devemos revogar só uma parte do artigo 128 do Código Penal. Devemos ir passo a passo.
Apesar de ter sofrido uma enorme pressão contrária de seus amigos, a deputada Chris Tonietto protocolou em 15 de maio de 2019, o Projeto de Lei 2893/2019, que revoga totalmente o artigo 128 do Código Penal, eliminando as duas hipóteses de não punição do aborto em nosso país.
Sobre as almas que, na vida espiritual, querem proceder “passo a passo”, eis o que diz Santa Teresa de Jesus:
Sempre passo a passo, jamais chegaremos ao termo do caminho[…]
Vamos caminhando com tanto siso, que tudo nos assusta, tudo nos amedronta. Não ousamos dar um passo à frente.
[…].
Entreguemos nas mãos do Senhor nossa razão e nossos temores. […] Quanto a nós, tratemos somente de caminhar depressa, para ver este SenhorAnápolis, 9 de maio de 2022.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.