Como foi a marcha contra o terror no SUS

(três anos de terror nos hospitais públicos)

Brasília – 9 de novembro de 2001 – Catedral Metropolitana – Nove horas.

A polícia está esperando os manifestantes que, pouco a pouco, se instalam perto do eixo monumental, a fim de escoltá-los. Vários ônibus chegam de Anápolis e cidades vizinhas. Um ônibus vem cheio quase que exclusivamente de seminaristas, padres e religiosos. Dom Manoel Pestana Filho, Bispo de Anápolis e responsável pela Pastoral Familiar do Regional Centro-Oeste da CNBB, vem de carro. Dóris (assim é chamada Maria das Dores Hipólito, presidente da Associação Nacional Mulheres pela Vida) vem do Rio de Janeiro só para o evento. Pernoitara na casa do Prof. Humberto Leal Vieira, presidente do PROVIDAFAMÍLIA. Ele desejaria estar presente, mas uma grande debilidade em suas pernas o impede até mesmo de ficar de pé. Não pode participar da passeata.

A multidão vem-se aglomerando. De Vila Planalto, o impetuoso Padre Ítalo Guerrera (guerreiro até no nome) traz um carro de som e um cartaz dirigido ao Ministro. De Anápolis chega a equipe de teatro Éfeta, que monta uma cena representativa do massacre dos inocentes por Herodes, figura da Norma Técnica do Aborto, que completa seu terceiro aniversário. Artistas representando soldados com lanças espetando bebês de plástico, mulheres da Judéia chorando… e alguém com um edito de Herodes na mão: “Matem-se todos os meninos de Belém, de dois anos para baixo“.

No entanto, uma manifestação feita por gente pobre, sem o imenso apoio financeiro que recebem do Tio Sam os grupos pró-aborto, teve alguns problemas: o carro de som não conseguia atingir toda a multidão que caminhava. E várias vezes o amplificador recusou-se a funcionar. Paciência. Seja tudo para a glória de Deus.

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Durante a marcha, os manifestantes espalhavam um panfleto contando a história da Norma Técnica: “Três anos de terror no SUS”. Além disso, um papel meio-ofício com a letra de uma música composta especialmente para o Ministro, cujo refrão era:

Senhor Ministro, revogue a Norma Técnica
revogue a Norma Técnica,
a Norma Técnica do Aborto

Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Uma representação em maquete do World Trade Center fora feita pelo Padre Sávio, de Goianápolis (GO), comparando o atentado terrorista de 11 de setembro com o terror praticado impunemente pelos médicos que há três anos obedecem à Norma Técnica.

Chegamos ao prédio do Ministério da Saúde (o último dos ministérios da ala direita, de quem sai da Catedral). Que fazer? Vamos entrar (ou tentar entrar) para protocolar no gabinete do Ministro um pedido de revogação da Norma Técnica. Temos dois documentos: um é uma carta assinada pelo Conselho Permanente da CNBB, datada de 20 de agosto de 2000, solicitando a revogação da Norma Técnica (carta esta que o Ministro já recebera, mas que, talvez por “esquecimento”, não cumpriu). Outro documento é uma carta de 14/05/2000 do atual arcebispo do Rio de Janeiro (na época bispo de Florianópolis) Dom Eusébio Scheid, suplicando ao Ministro a revogação da Norma Técnica do Aborto.

Queremos entrar. Dias antes já havíamos entrado em contato com a Assessoria de Relações Públicas e Cerimonial, solicitando uma audiência, nem que fosse com um representante do Ministro, que nos pudesse atender. Não recebemos retorno.

O Bispo Dom Manoel recebe permissão de entrar. Dóris, representando a Associação Mulheres pela Vida, entra também. Mas é obrigada a deixar do lado de fora um bebê gigante, feito de isopor, símbolo da causa pró-vida (será que os funcionários pensavam que seria uma bomba?).

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Da esquerda para a direita:
Pe. Andreas Dankl, vice-reitor do Seminário Imaculado Coração de Maria,
Maria das Dores (Dóris), presidente da Associação Nacional Mulheres pela Vida,
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, presidente do Pró-Vida de Anápolis,
Dom Manoel Pestana Filho, Bispo de Anápolis e responsável pelo Setor Família do Regional Centro-Oeste da CNBB,
Pe. Sávio Fernandes Bezerra, administrador paroquial de Goianápolis (GO).

O tempo passa. Estou do lado de fora. O Major da polícia pergunta qual o próximo passo. Digo que nada mais há a fazer. Apenas esperar o Bispo, que parece ter ficado “preso” no quinto andar do Ministério da Saúde. Ao saber que eu fora barrado, o Major mostra indignação e manda que eu entre com ele. Chegando ao quinto andar, finalmente encontramos Dom Pestana. Conseguira protocolar o documento. O número do protocolo, porém., não fora dado. Ficou para depooois… Na ante-sala, repórteres de TV filmam e entrevistam Dom Manoel e  Dóris.

Hora de ir embora. Vamos descer o elevador. Na rua, Dom Pestana dá um discurso final:

Deus não exige de nós a vitória. Mas exige a luta. Não podemos pecar por omissão“.

Anápolis, 9 de novembro de 2001.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis

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