O messias brasileiro?

(curiosa semelhança entre Jair Messias Bolsonaro e Ciro, rei dos persas)

O capítulo 45 de Isaías começa com oráculo real de entronização. Ciro, rei dos persas, recebe o título de “ungido do Senhor”, que era reservado aos reis de Israel e que se tornou o título do rei-salvador esperado1Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, que tomei pela destra…

2Eu mesmo irei na tua frente e aplainarei lugares montanhosos…

[…]

4Foi por causa do meu servo Jacó, por causa de Israel, o meu escolhido, que eu te chamei pelo nome, e te dei um nome ilustre, embora não me conhecesses.

5Eu sou o Senhor e não há outro, fora de mim não há Deus. Embora não me conheças, eu te cinjo (Is 45,1.2.4-5).

Embora não fosse judeu e “não conhecesse o Senhor”, Ciro foi “tomado pela mão” e chamado “pelo nome” por causa de Israel, o povo eleito. A missão de Ciro foi libertar os judeus, que estavam no cativeiro. Em 539 a. C. seu exército conquistou a Babilônia e em 538 a.C. foi publicado o célebre “edito de Ciro”, concedendo a liberdade aos judeus e determinando a reconstrução do Templo de Jerusalém (Esd 1,2-4).

No atual momento, a ascensão de Jair Messias Bolsonaro, aclamado pelas multidões como favorito para a Presidência da República, tem algumas notáveis semelhanças com o que ocorreu com Ciro, rei dos persas.

Ciro, ungido do Senhor

Curiosamente, Bolsonaro traz o nome de “Messias”, palavra de origem aramaica que se traduz por “ungido”, o mesmo título que a Bíblia deu a Ciro.

Ciro não conhecia o Senhor.

Bolsonaro não conhecia o Senhor. Batizado na Igreja Católica, não viveu o matrimônio indissolúvel. Separando-se da esposa Rogéria Nantes Nunes Braga, com quem teve três filhos, uniu-se com Ana Cristina Valle (com quem teve um filho) e, por último, com Michelle de Paula Firmo Reinaldo (com quem teve uma filha). Seu “casamento” com Michelle realizou-se na presença do pastor Silas Malafaia, em 2013Em 2002, como deputado federal, ele apresentou à Câmara a PEC 584/2002, que pretendia obrigar o Estado a oferecer vasectomia e laqueadura tubária para maiores de 21 anos! Fez isso porque não conseguiu libertar-se da enganosa mentalidade antinatalista, segundo a qual o crescimento da população gera pobreza. Além disso, não percebeu que a esterilização direta é sempre gravemente imoral, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Quanto ao aborto, em 23/04/1996 ele foi um dos 351 deputados que votou “não” à PEC 25/1995, que pretendia acrescentar as palavras “desde a concepção” ao caput do artigo 5º, logo após a “inviolabilidade do direito à vidaNo entanto, em 2013, Bolsonaro foi um dos autores do Projeto de Lei 6055/2013, que pretende revogar a Lei 12.845/2013, a famosa lei Cavalo de Tróia, que obriga as delegacias de polícia a informar às supostas vítimas de estupro onde elas podem fazer aborto. Isso parece indicar que a posição do deputado mudou, talvez pela boa influência recebida do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior.

Ciro foi chamado pelo Senhor

Bolsonaro considera que o extraordinário apoio popular dado a alguém tão insignificante como ele é sinal de uma missão de Deus:

Eu sou cristão. Olha só a situação que eu cheguei. Sou do baixíssimo clero, não sou ninguém na política, não sou nada. E tenho o apoio popular que está aí. Não é inimaginável o que está acontecendo? Como eu consegui isso?Vamos em frente. Essa é uma missão de Deus para cada um de nós. E junto nós podemos vencer esse inimigoA popularidade de Bolsonaro cresceu sobretudo no combate ao “kit gay”, um material produzido em 2011 pelo Ministério da Educação e Cultura, na época dirigido pelo Ministro Fernando Haddad, em parceria com a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), que seria distribuído nas escolas no segundo semestre daquele ano. Denominado pelo governo “kit anti-homofobia”, o material era uma autêntica apologia do homossexualismo e uma doutrinação na ideologia de gênero. Com tanto vigor Bolsonaro atacou o governo petista pela produção daquele material de corrupção infanto-juvenil, que despertou para o combate a bancada católica e evangélica da Câmara. Como consequência, em 25 de maio de 2011, a presidente Dilma resolveu suspender a distribuição do “kit”.

Em 2014, o deputado também esteve presente, junto aos militantes pró-vida e pró-família, no combate à inclusão da ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação (PNE), luta esta que resultou vitoriosa.

Talvez ele não imaginasse que seu empenho em favor da família lhe renderia tanta popularidade. O partido ao qual se filiou como candidato à presidência da República (PSL) tem apenas dez segundos de propaganda eleitoral na televisão. No entanto, mesmo sem outros recursos de divulgação além das redes sociais, suas ideias são aplaudidas pela multidão. O que ele defende é espantosamente óbvio: o matrimônio entre um só homem e uma só mulher, crianças livres da ideologia de gênero nas escolas, pais e professores com autoridade para educar, cidadãos com direito à legítima defesa, bebês com direito de nascer, o STF sem ativismo judicial, a sociedade livre das drogas. O óbvio, porém, assusta, talvez porque quase ninguém ousa defendê-lo. Os jornais, revistas e emissoras de televisão têm feito uma campanha cerrada contra o “mito Bolsonaro”. No dia 6 de setembro, durante uma campanha em Juiz de Fora (MG), o candidato recebeu uma facada no abdômen. A tentativa de homicídio não teve êxito, mas obrigou-o a ficar internado por 22 dias.

Conclusão

É espantoso que o defensor da família natural seja alguém que se divorciou e se “recasou” duas vezes. É espantoso que o único candidato que ousou dizer que vetará qualquer lei do aborto vinda do Congresso (!) seja alguém que ainda não entendeu a gravidade do pecado da esterilização.

A Providência Divina é soberanamente livre para escolher seus instrumentos. “Ao Senhor nosso Deus a justiça, mas a nós a vergonha no rosto” (Br 2,15). Vergonhoso para nós não é a ascensão de Bolsonaro. Vergonhoso é que entre os que professam a fé católica não se tenha encontrado nenhum outro político com a coragem dele. Enfim, em tudo Deus seja louvado.

Anápolis, 5 de outubro de 2018.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis.

 

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