Redesignação sexual: uma mentira

 width=(o sexo é um dado, que não pode ser mudado)

Todo mundo duvida quando um menino, que é do sexo masculino, diz que é uma menina”. A frase é do Dr. Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual da Faculdade de Medicina da USP[1]. Ora, é claro que todo mundo duvida. Pois um menino, “que é do sexo masculino”, é um menino, e não uma menina. Dizer que um menino é uma menina seria mentira. E ninguém é obrigado a aceitar uma mentira.

Note-se que a frase não diz que um menino está inconformado por ser menino. O que está dito é que um menino “é uma menina” (!), mesmo sendo do sexo masculino. Estamos diante da ideologia de gênero, segundo a qual o que determina ser homem ou ser mulher é simplesmente a percepção e a vontade do sujeito (“gênero”). E o mundo deve dobrar-se a essa vontade de ser tratado como se fosse alguém do sexo oposto. É o império do subjetivo sobre a realidade, da mentira sobre a verdade.

Contra tal ideologia, posiciona-se Dra. Michelle Cretella, pediatra do “American College of Pediatricians” (ACP):

A definição de delírio é uma crença falsa fixa. Portanto, se insisto persistente e consistentemente que sou Margaret Thatcher, ou insisto persistente e consistentemente que sou um gato, ou que sou um amputado preso em um corpo normal – estou delirando[2].

A médica explica que há um distúrbio psicológico chamado Transtorno de Identidade da Integridade Corporal (TIIC)[3] em que um indivíduo sadio se sente como se algum de seus membros estivesse amputado. Tais pessoas sentem-se como deficientes “aprisionados” em um corpo normal. Ora, prossegue a médica, “se alguém quiser cortar uma perna ou um braço, é um doente mental”. Mas, segundo a ideologia de gênero, se alguém diz que é um homem “aprisionado” em um corpo de mulher, ou vice-versa, e quiser cortar os seios ou os órgãos genitais sadios, tal desejo não pode ser visto como um transtorno psicológico (que de fato é), mas como algo a ser satisfeito mediante cirurgias de “redesignação sexual”. Tal indivíduo é chamado “transgênero”: está com a mente “correta” em um corpo “errado”. “Ora, – diz Dra. Cretella – isso é completamente anticientífico. Isso não é um diagnóstico”.

Seria cômica – se não fosse trágica – a pretensão de “redesignar” o sexo de alguém por meio de hormônios do outro sexo ou de uma cirurgia mutiladora. Dra. Cretela esclarece que, além das diferenças cromossomiais (XX = mulher; XY = homem), há pelo menos 6.500 diferenças genéticas entre homens e mulheres. Cada órgão do corpo é ‘sexuado’, geneticamente falando”. “O transgenerismo é uma construção social”. E a palavra gênero “nada mais é do que um termo da engenharia linguística e não deveria ter lugar na medicina”.

Ora, essa manipulação tem sido feita há oito anos pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) em “crianças com variação de gênero”[4] . Diz Dr. Saadeh: “A gente não faz experimento com crianças. A gente faz um projeto de pesquisa”. Ao todo, 85 crianças e mais de 180 adolescentes são “acompanhados” pelo projeto. No entanto, a Resolução CFM nº 2265, de 2019, que trata do bloqueio hormonal em crianças pré-púberes, diz que ele será realizado “exclusivamente em caráter experimental” (art. 9º, § 2º)[5]. Há, portanto, uma experimentação feita com crianças.

Uma história impressionante é de uma menina, atualmente com oito anos, que aos dois anos de idade “descobriu” (!) que era transgênero, por repudiar “tudo o que era feminino”. Dos quatro para cinco anos, a menina “começou a transição” e hoje tem um nome masculino. A recusa do público em admitir que a criança é um menino (que de fato não é) é considerada preconceito e intolerância[6].

Não está dito o que se fez no processo de “transição” daquela criança aos quatro ou cinco anos. Segundo Dr. Saadeh, não há intervenção hormonal nem cirúrgica em crianças “até a puberdade”. Porém, em crianças pré-púberes, faz-se um “bloqueio da puberdade”, que impede as mudanças corporais próprias de cada sexo, a fim de “ganhar tempo” para uma “certeza diagnóstica”. Aos dezesseis anos, entra-se com o hormônio específico relacionado com a sua “identidade de gênero” (sic). “Se é menina, um hormônio feminino. Se é menino, um hormônio masculino”.

Note-se, na frase acima, que “se é menina…” quer dizer “se é um menino que acha que é uma menina”; e “se é menino…” quer dizer “se é uma menina que acha que é um menino”. Em outras palavras, aplica-se o hormônio do sexo oposto para falsear a aparência do próprio sexo.

Se a criança, por alguma disfunção, estava confusa, o “bloqueio da puberdade” aumenta o período de confusão, que poderia ser solucionada na adolescência, e a predispõe a aceitar que tem um corpo sexualmente “errado”, que precisa de uma “correção”. Aos dezesseis anos, ela aceita a aplicação do hormônio do sexo oposto (“hormonioterapia cruzada”). Dra. Michelle Cretella adverte que a combinação de bloqueadores da puberdade com hormônios do sexo oposto “esterilizará permanentemente a maioria dessas crianças, se não todas, e também as colocará em risco de doenças cardíacas, diabetes e vários tipos de câncer”[7].

Aos 21 anos, segundo a Portaria CFM nº 2.803, de 2013[8], o paciente com a puberdade bloqueada e hormônios sexuais cruzados pode finalmente ser submetido a uma cirurgia para imitar o sexo oposto. As meninas podem submeter-se a uma mastectomia dupla (retirada de ambos os seios). Os meninos podem ser castrados, à semelhança dos antigos eunucos. Mas enquanto os eunucos eram considerados homens (embora mutilados), os que sofreram cirurgia de “redesignação sexual” devem ser considerados e chamados “mulheres”. Chamá-los de homens seria uma intolerância apelidada de “transfobia”. Como no conto de Andersen, ninguém pode dizer que não vê a roupa nova do imperador.

Segundo Dr. Saadeh, o objetivo de tais “terapias” é aliviar o sofrimento daqueles que têm um corpo biológico não conforme a sua “identidade de gênero”. No entanto, segundo o American College of Pediatricians, não são boas as consequências a longo prazo das “cirurgias de redesignação sexual” (CRS):ACPeds Logo

Pesquisas sugerem que adultos transgêneros inicialmente expressam uma sensação de “alívio” e “satisfação” após o uso de hormônios e cirurgia de redesignação sexual (CRS). A longo prazo, porém, a CRS não resulta em um nível de saúde equivalente ao da população em geral. […] Um estudo de acompanhamento de trinta anos de pacientes transgêneros pós-operatórios da Suécia[9] descobriu que trinta anos depois da cirurgia, a taxa de suicídio entre adultos transgêneros pós-operatórios era quase vinte vezes maior do que a da população em geral[10].

Elio Sgreccia explica que “a intervenção sobre o físico não adequa o sexo àquele desejado; antes, introduz uma nova distonia no físico entre os elementos cromossômicos-gonádicos e os órgãos exteriores”[11], que frequentemente conduz ao suicídio. Também não se pode aplicar aqui o princípio da totalidade, que autoriza a extração de um órgão doente (como um apêndice infectado) em benefício de todo o organismo. Isso porque “neste caso se interfere na parte fisicamente não doente, mas sadia, porque o organismo sexual do transexual é fisicamente íntegro”[12].

O homem é uma criatura. É concebido com um determinado sexo, nasce em uma determinada família, de um determinado país, tem uma vocação e missão próprias neste mundo. Aceitar aquilo que se é, é conhecer a verdade, que conduz à liberdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Rejeitar aquilo que se é, é optar pela mentira, que conduz a morte. O “pai da mentira” é também o “homicida desde o princípio” (Jo 8,44).

[1] https://jornal.usp.br/atualidades/usp-acompanha-criancas-com-variacao-de-genero-ha-oitos-anos/

[2] https://tfpstudentaction.org/blog/dr-michelle-cretella-on-transgender-ideology

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_identidade_de_integridade_corporal

[4] https://jornal.usp.br/atualidades/usp-acompanha-criancas-com-variacao-de-genero-ha-oitos-anos/

[5] https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/CFM_Resolucaoo_2265_20_09_2019.pdf

[6] https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/01/29/280-criancas-e-adolescentes-trans-fazem-transicao-de-genero-no-hc-da-usp-veja-videos-com-o-que-eles-contam-sobre-esse-processo.ghtml

[7] https://tfpstudentaction.org/blog/dr-michelle-cretella-on-transgender-ideology

[8] https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2803_19_11_2013.html

[9] Dhejne, C, et.al. “Long-Term Follow-Up of Transsexual Persons Undergoing Sex Reassignment Surgery: Cohort Study in Sweden.” PLoS ONE, 2011; 6(2). Affiliation: Department of Clinical Neuroscience, Division of Psychiatry, Karolinska Institutet, Stockholm, Sweden

[10] https://acpeds.org/position-statements/gender-dysphoria-in-children

[11] E. SGRECCIA. Manuale di Bioetica. v. 2, 3. ed. Milano, Vita e Pensiero, 2002, p. 131.

[12] Ibid., p. 132

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