Três dias bastaram para que ela mudasse de opinião

(uma história sobre o “aborto por nascimento parcial” nos Estados Unidos)

(Jornal Santuário de Aparecida, 11 a 17 de janeiro de 1997, p.13)

Pe. Flávio de Castro

pba smBrenda Pratt Shafer é uma enfermeira norte-americana. Ferrenha partidária do Movimento Pro-Choice, defendia o direito de cada mulher livremente optar pelo aborto. Tanto que vivia dizendo às suas filhas adolescentes que as obrigaria a abortar caso ficassem grávidas. Bem, não me pergunte como conseguia conciliar essa imposição com o direito de cada mulher optar livremente pelo aborto. O certo é que era tão favorável ao aborto livre que, no segundo semestre de 1995, foi trabalhar numa clínica de abortos em Dayton (Ohio). Três dias bastaram para que ela mudasse de opinião.

Agora, em abril de 1996 ela fazia parte do Movimento Pro-Life, defendendo o direito da criança à vida. Tanto que, em Washington, participou de. uma entrevista à imprensa na qual o Movimento Pro-Life tentava convencer o presidente Clinton a não vetar uma lei que proibia o aborto de crianças quase a ponto de nascer (partíal- birth abortíons). O ponto alto de sua argumentação foi a narração do pesadelo vivido por ela nos três dias passados na clínica de abortos de Dayton. O relato é cru e sangrento. Certamente desagradara a quem prefere falar do. aborto em temos “limpos.” e “civilizados”. Foi isso que ela contou na entrevista:

No primeiro dia vi o médico extrair o corpo do bebé, tomando cuidado para que a cabeça continuasse no canal vaginal. Seus dedinhos agitavam-se, como que tentando agarrar-se a alguma coisa. E, quando o médico perfurou sua nuca com uma tesoura cirúrgica, o bebé retesou os braços contorcendo-se. Depois o médico alargou a abertura para aspirar o cérebro. Quase vomitei.

Estou absolutamente certa que o presidente Clinton não iria vetar a lei se alguma vez tivesse presenciado um aborto assim. Quando a mãe pediu para ver a criança abortada, começou a chorar sem parar dizendo: ‘Que pena…’ A enfermeira não conseguiu conter-se e chorou junto com ela.”

Brenda viu ainda mais dois abortos. Abandonou o emprego, carregando consigo seus pesadelos. Sua filha, Tara, de 16 anos, que sempre foi contrária às ideias da mãe, comenta: “Agora mamãe diz que, se eu engravidar, poderei ter o meu bebé”.

Apesar de tudo Clinton vetou a lei da Câmara e do Senado que proibia .esse tipo de aborto.

(Nota: o veto de Clinton não impediu que ele fosse reeleito presidente. Em seu segundo mandato, novamente ele vetaria a lei, outra vez aprovada pelas duas Câmaras, que proibiria o aborto por nascimento parcial – Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz)

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