Coração Imaculado de Maria,
livrai-nos da maldição do aborto!

(ele salvou o Menino e sua Mãe)

O Papa Francisco, o “doce Cristo na terra”[1], a quem devemos reverência e obediência, sempre demonstrou um grande amor por São José. Logo no início de seu pontificado, em 1º de maio de 2013 (festa de São José Operário), a Congregação para o Culto Divino e a Doutrina dos Sacramentos decretou que o nome de São José fosse acrescentado nas Orações Eucarísticas II, III e IV do Missal Romano[2], como outrora São João XXIII, durante o Concílio Vaticano II, ordenara que o nome desse Santo fosse acrescentado à Oração Eucarística I (ou Cânon Romano).

No dia 8 de dezembro de 2020, solenidade da Imaculada Conceição, quando se completaram 150 anos desde que o Papa Beato Pio IX declarou São José “Patrono da Igreja Católica” (em 08/12/1870), o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Patris corde”[3] com o objetivo de “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”. Ao final da Carta, antes da oração conclusiva, diz o Papa: “Só nos resta implorar, de São José, a graça das graças: a nossa conversão”. A publicação da Carta serviu também de início do “Ano de São José”, que terminará em 8 de dezembro de 2021.

A paternidade de São José

A Carta começa dizendo que José amou a Jesus “com coração de pai” (Patris corde). Peço licença para transcrever aqui uma bela comparação que ouvi de Mons. Mario Cuomo (V 31/10/2018), que por tantos anos trabalhou em nossa Diocese de Anápolis.

Um homem tem um jardim. Tudo aquilo que plantou no jardim pertence a ele. Uma pomba vem voando e traz em seu bico uma semente. Lança-a naquele jardim. A semente germina, cresce e torna-se uma planta. A quem pertence essa planta? Pertence ao dono do jardim, embora não seja ele que tenha lançado a semente.

O jardim é Maria. O dono do jardim é José. A pomba é o Espírito Santo. A semente trazida em seu bico é o próprio Jesus. Concebido por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, Jesus pertence a José, pois Maria é o jardim de José. Neste sentido, ele é filho de José, seu pai virginal, assim como é filho de Maria, sua mãe virginal.

Temos assim um casal trazendo consigo a excelência do matrimônio (imagem viva do amor de Cristo por sua Igreja) e a excelência da virgindade voluntariamente abraçada “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19,12).

O protetor da Vida

O Verbo “é a Vida” (Jo 1,4). Ele diz de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Veio para que tenhamos “vida, e vida em abundância” (Jo 10,10). José aparece como o guardião de Jesus e sua Mãe. Ele defende a vida de ambos durante a gestação (impedindo o apedrejamento de Maria) e após o nascimento (salvando o Menino e sua Mãe das mãos de Herodes). Ouçamos como o Papa Francisco fala sobre isso:

José sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer ‘difamá-la’, e decide ‘deixá-la secretamente’ (Mt 1,19). No primeiro sonho, o anjo ajuda-o a resolver o seu grave dilema: ‘Não temas receber Maria, tua esposa, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados’ (Mt 1,20-21). A sua resposta foi imediata: ‘Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo’ (Mt 1,24). Com a obediência, superou o seu drama e salvou Maria.

A sombra da fugaNo segundo sonho, o anjo dá esta ordem a José: ‘Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar’ (Mt 2,13). José não hesitou em obedecer, sem se questionar sobre as dificuldades que encontraria: ‘E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes’ (Mt 2,14-15).

No Egito, com confiança e paciência, José esperou do anjo o aviso prometido para voltar ao seu país. Logo que o mensageiro divino, num terceiro sonho – depois de o informar que tinham morrido aqueles que procuravam matar o menino –, lhe ordena que se levante, tome consigo o menino e sua mãe e regresse à terra de Israel (cf. Mt 2,19-20), de novo obedece sem hesitar: ‘Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel’ (Mt 2,21).

Durante a viagem de regresso, porém, ‘tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Então advertido em sonhos – e é a quarta vez que acontece – retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré’ (Mt 2,22-23).

Comentando tais acontecimentos, diz o Papa: “Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu ‘fiat’, como Maria na Anunciação e Jesus no Getsêmani”[4]. Mas o “fiat” de José foi silencioso. Enquanto Maria disse ao anjo “faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) e Jesus disse ao Pai “seja feita a tua vontade” (Mt 26,42), os Evangelhos não narram uma única palavra de José. Sua obediência é silenciosa.

Nas palavras do Papa Francisco, “depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo”. A frase seguinte parece destinada a nós, em nossa missão de socorrer as gestantes aflitas e os bebês que elas trazem consigo:

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda.

E prossegue:

O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria que encontra em José aquele que não só Lhe quer salvar a vida, mas sempre A sustentará a Ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria. José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe.

Padroeiro do Movimento Pró-Vida

Muitos militantes pró-vida invocam São José. Na sede do Pró-Vida de Anápolis, a capela onde se celebra a Santa Missa e se faz adoração eucarística é chamada “Oratório São José”. Seria oportuno pedir ao Santo Padre que neste ano declarasse São José “Patrono Universal do Movimento Pró-Vida” e adicionasse à sua ladainha alguma invocação como “Protetor da Vida Nascente, rogai por nós” ou “Defensor das Duas Vidas, rogai por nós”.

Neste tempo tão conturbado pelo qual passa a Igreja, em que há quem pretenda defender a fé faltando com a caridade, o Santo Padre nos diz:

A vontade de Deus, a sua história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim ele ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza. E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o timão da nossa barca.

Por vezes pode parecer que enquanto a barca se enche de água, Jesus está “dormindo sobre o travesseiro” (Mc 4,38). Mas ele logo se levantará e dirá ao vento e ao mar: “Silêncio! Quieto!” e haverá uma grande bonança.

Anápolis, 8 de março de 2021.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis

 

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