Certa vez os matemáticos de um país viram-se às voltas com um problema intrincado: quantas diagonais podem ser traçadas em um icoságono? Era preciso desenhar um polígono de 20 lados (icoságono) e depois, pacientemente, unir os vértices não consecutivos dois a dois e contar o número de diagonais traçadas. Um matemático jovem, aplicando uma fórmula algébrica simples, afirmou que no icoságono havia 170 diagonais. Este número foi considerado elevado demais por alguns, pequeno demais por outros, e houve polêmica na assembléia. Foi então que o presidente da mesa teve uma idéia genial: resolver o caso por meio de uma votação. Cada matemático recebeu uma cédula onde escreveu quantas diagonais ele “achava” que o icoságono deveria ter. Feita a apuração dos votos, o número 100 ganhou por maioria. O presidente então falou com voz magistral: “Fica decretado por esta assembléia que o icoságono tem exatamente 100 diagonais, nada mais, nada menos”.
Esta estória é obviamente absurda e ridícula, pois as verdades matemáticas não se decidem pelo “achismo”. Já dizia alguém com sabedoria: “Dois mais dois são quatro, mesmo contra a minha vontade”.
No entanto, quando se trata de verdades morais, muito mais importantes que as verdades matemáticas, parece que a maioria pode defini-las por votação e decreto. Por exemplo: um ser humano não nascido tem ou não tem direito à vida? É evidente que tem. Trata-se de uma verdade moral, que deriva da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Aliás, se tirarmos do homem (grande ou pequeno, forte ou fraco, nascido ou não nascido) o direito à vida, de que adiantarão os outros direitos (saúde, educação, segurança, propriedade…)? Pode um defunto ter saúde? Pode um morto receber educação? Pode um cadáver gozar de segurança? Pode um falecido possuir bens?
O direito à vida desde a concepção é uma verdade gritante. No entanto está em cena no Congresso Nacional a seguinte comédia: definir por votação se esta verdade vai ou não continuar sendo verdade. A maioria terá o poder de decidir, por exemplo, que a criança não nascida é um ser bruto cujos restos mortais podem encher as latas de lixo dos hospitais.
O simples fato de isto ser posto em votação é vergonhoso. Se além de votado, o assassinato intra-uterino for aprovado, o Brasil estará assinando seu atestado de brutalidade e selvageria. A partir daí esta nação simplesmente não merecerá mais subsistir.
Nota: contrariando a decisão dos matemáticos daquele país, um icoságono tem realmente 170 diagonais.
Anápolis, 24 de maio de 1996.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz