Corre o ano de 2150. Em Brasília, capital nacional, uma turma de alunos ouve atentamente uma aula de História do Brasil.
– A abolição do aborto no Brasil – diz a professora – só ocorreu no ano 2101, depois de muito sangue inocente derramado…
Nisto um aluno ergue o dedo e faz uma pergunta?
– Professora, quando o aborto entrou no Brasil?
– Isto nós já falamos na aula passada. Foi no ano de 1997 que o Congresso Nacional legalizou o aborto.
– Mas a escravidão já não tinha sido abolida? – insiste o menino.
– Sim. Desde 1888.
– Por que proibiram a escravidão e depois permitiram matar crianças?
A professora fica em silêncio, demonstrando confusão.
– Não sei por que permitiram. O ser humano tem dessas coisas. Mas felizmente hoje as clínicas de aborto transformaram-se em museus de história…
Neste momento uma aluna interrompe:
– Eu já visitei um deles. Argh! Não quero nem lembrar.
Uma outra aluna, famosa pelas boas notas, comenta com ar pensativo.
– O povo do século XX deveria ser selvagem. Como puderam legalizar a matança de crianças?
– É difícil explicar. Mas um dos grupos mais ativos eram as feministas, que lutavam pelos direitos da mulher.
– E a mulher tem o direito de matar seu filho? – insiste a aluna.
– Claro que não. Mas naquela época havia pessoas que pensavam assim.
Várias testas de alunos franzem-se olhando para a mestra. O assunto parece simplesmente intragável. A professora nota a perturbação.
– Vamos agora falar de coisas mais agradáveis.
E a aula continua…
Anápolis, 29 de maio de 1996.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz