Um “presente” para o Santo Padre

Diante da avalanche da legalização do aborto em vários países de população católica, o Santo Padre João Paulo II lançou um grito de alerta no dia 25 de março de 1995. Foi a encíclica Evangelium Vitae (“o Evangelho da Vida”) sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana. Ninguém pode ler este documento sem se comover com a dor do Papa pela carnificina dos pequeninos e inocentes. Ele não apenas condena o erro, mas grita a plenos pulmões anunciando a verdade e conclamando os cristãos a defendê-la.

No dia 9 de junho de 1995, a Congregação para a Doutrina da Fé enviou uma correspondência a todos os Presidentes das Conferências Episcopais (inclusive a CNBB) reafirmando a preocupante situação de muitos países e aconselhando a formação de consultórios matrimoniais e familiares com a finalidade de promover uma formação conscienciosa baseada no amor e no respeito incondicional pela vida. A carta termina com uma espécie de cobrança:

Este Dicastério gostaria de conhecer como esta Conferência Episcopal pretende realizar a proposta antes dita, e de ser informado sobre a efetiva situação em que se encontra esta Nação a respeito do grave problema do aborto e sobre as diversas iniciativas assumidas para contrastar sua difusão [grifo nosso].

Para sermos sinceros, nós, brasileiros, sejamos bispos, padres ou leigos, deveríamos responder à Santa Sé que não estamos fazendo quase nada para conter o aborto. Uma Conferência Episcopal composta de 368 membros poderia, sem muita dificuldade, colocar em pânico os abortistas do Congresso simplesmente pela ameaça de cortar-lhes os votos dos católicos. Mas parece que nossos pastores estão dormindo, absorvidos por outros problemas mais importantes e urgentes (?) do que a defesa da vida… Não é estranho que, entre tantos temas escolhidos para a Campanha da Fraternidade nunca se tenha pensado em incluir algum como A violação da vida nascente? Imagine que repercussão isto teria pelo Brasil afora! E não é estranho que na Campanha da Fraternidade do ano passado, dedicada à defesa dos excluídos, não haja uma menção sequer aos excluídos do seio materno?

É louvável que os bispos se tenham reunido em Itaici de 17 a 26 de abril de 1996 e elaborado um ótimo Pronunciamento sobre a Família, no qual o crime do aborto é incisivamente condenado. Mas será isto suficiente? O projeto de lei 20/91 que introduz oficialmente o aborto no país pode ser votado e aprovado a qualquer momento!

Desejoso de preservar a todo custo os valores da família cristã, Sua Santidade já marcou para os dias 4 e 5 de outubro do próximo ano o II Encontro Mundial das Famílias no Rio de Janeiro. Temo, porém, que ao chegar ao Brasil, o Santo Padre receba um presente amargo da maior nação católica do mundo: o aborto legalizado.

Anápolis, 23 de julho de 1996

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

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