“Todo o mundo se servia de uma mesma língua e das mesmas palavras” (Gn 11,1)

Tende-se, às vezes inconscientemente, a pensar na criança no ventre materno como um ente que ainda não existe, que ainda não vive, que ainda não é pessoa. Isso é denunciado na linguagem coloquial. Pergunta-se a uma mulher grávida: “quando é que você vai ser mãe?”. Ora, se ela está grávida, ela já é mãe. A maternidade não é futura e incerta, mas presente e certa.

Quando Santa Isabel, “cheia do Espírito Santo” (Lc 1,41) ouviu a saudação da Virgem Maria, exclamou: “Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?” (Lc 1,43). Note-se que ela não chamou a visitante de “futura mãe do meu Senhor”, mas de “mãe do meu Senhor“. Jesus ainda não havia nascido, mas Maria Santíssima já era sua mãe.

Às vezes ainda se pergunta a uma gestante: “quando é que você vai ter a criança?”. Ora, durante a gravidez, a mulher já tem a criança; aliás, nunca a terá tão perto de si quanto nessa fase da vida. O nascimento fará com que aquela criança que ela já tem possa ser contemplada e carregada ao colo pelos outros. Dar à luz, em vez de ter, é entregar.

Usa-se dizer também que a gestante está “esperando neném”. Na verdade, a mulher só estava “esperando” o neném antes de engravidar. Iniciada a gravidez, o bebê já está presente. A única coisa que ela espera (como evento futuro) é o nascimento do bebê.

O mais veemente, porém, de todos os sintomas que denunciam a não consideração da vida intra-uterina está em afirmações como esta: “Este bebê nasceu ontem. Só tem um dia de vida”. Ora, se ele nasceu ontem, tem cerca de nove meses de vida intra-uterina e mais um dia de vida extra-uterina. Mas a frase dá a entender que a vida só se iniciou quando ele nasceu.

É comum que, durante a gestação, os pais indaguem sobre o futuro do bebê: “Será que vai gostar do berço que preparamos? Qual será sua profissão? Vai crescer até que altura?” Mas não tem cabimento perguntar: “será que vai ser um menino?”, pois o sexo é um dado biológico presente desde a concepção. O correto seria dizer: “será que ele é um menino?”.

Os abortistas nunca usam a palavra “criança” para designar o nascituro. Costumam dizer que o “feto” é apenas “um ente humano em potencial“. Devemos responder dizendo que “a criança por nascer” (melhor do que “feto”) já é um ente humano, mas com um grande potencial. Ela não é um ente “pré-humano” nem “subumano”. Já é verdadeiramente humana, mas tem o potencial para crescer e realizar grandes coisas, com a graça de Deus.

Os que defendem o aborto costumam dizer que, ao abortar, a gestante impediria que “viesse ao mundo” uma criança deficiente, infeliz e destinada a sofrer. Devemos responder dizendo que a criança por nascer já está no mundo, dentro do útero. Abortar significar matar essa criança que já está presente e viva.

Os defensores da vida devem tomar um cuidado especial em evitar a expressão “planejamento familiar”. Jorge Scala, em sua obra “IPPF: a multinacional da morte“, esclarece que esse termo nada mais é que um eufemismo para “controle de natalidade”, não havendo nenhuma diferença essencial entre ambos. “Planejamento familiar” é usado para designar o aborto, a esterilização e qualquer forma de anticoncepção. Isso é muito importante, pois não faltam pessoas bem intencionadas que se declaram contrárias ao “controle de natalidade”, mas favoráveis ao “planejamento familiar”. Há até católicos que dizem que a Igreja defende o “planejamento familiar natural” ou que aceita os métodos naturais de “planejamento familiar” (sic).

Essa confusão terminológica é grave. Quem lê os documentos oficiais da Igreja sobre a regulação da fecundidade nunca encontra o termo “planejamento familiar”. Pode-se em vão procurar essa expressão na encíclica Humanae Vitae (Paulo VI, 1968), nos documentos do Concílio Vaticano II (1962-65), na exortação apostólica Familiaris Consortio (João Paulo II, 1981), na encíclica Evangelium Vitae(João Paulo II, 1995) ou no Catecismo da Igreja Católica (1992). A expressão tampouco aparece no “Vade-mécum para os confessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal” (Pontifício Conselho para a Família, 1997), que trata especificamente do tema da anticoncepção.

De fato, a expressão “planejamento familiar” (“family planning“) foi empregada após a Segunda Guerra Mundial, depois de vencido e desmoralizado o nazismo, para substituir “controle de natalidade” (“birth control“). O objetivo foi, única e exclusivamente, mascarar o caráter eugenésico e coativo da anticoncepção, da esterilização e do aborto, bandeiras defendidas pela IPPF (“Federação Internacional dePlanejamento Familiar“) e seus aliados. Há, no entanto, uma legião de inocentes úteis que, com a melhor das intenções, usam o termo “planejamento familiar” para designar a continência periódica praticada pelo casal quando há razões graves para espaçar a geração de filhos.

Ao contrário, o termo “paternidade responsável” é genuinamente cristão. Aparece na Encíclica Humanae Vitae (n.º 10, Paulo VI, 1968), e já havia sido usado implicitamente no Concílio Vaticano II (Constituição Pastoral Gaudium et Spes n.º 50-51). É empregado em praticamente todos os documentos eclesiais que tratam da procriação humana. Tem um significado positivo, de abrir-se à geração de uma prole numerosa e, excepcionalmente, quando houver razões graves, de usar da continência periódica para evitar uma nova gravidez. Esse é o ensinamento perene contido na histórica encíclica de Paulo VI: a Humanae Vitae (n.º 10).

A seguir, uma pequena tabela de palavras, expressões e argumentos úteis à causa pró-aborto comparada com outras, adequadas à causa pró-vida:

LINGUAGEM PRÓ-ABORTO

LINGUAGEM PRÓ-VIDA

Feto, embrião, concepto, produto conceptual.

Bebê, criança, nascituro.

Um ente humano em potencial

Um ente humano com um grande potencial

Ter neném, ganhar neném, tornar-se mãe.

Dar à luz.

Esperar neném.

Esperar o nascimento do neném.

Será que ele vai ser um menino?

Será que ele é um menino?

Parabéns à futura mamãe!

Parabéns à mamãe!

Ele só tem um dia de vida!

Ele só tem um dia de nascido!

Hoje completei 40 anos de vida.

Hoje completei 40 anos de vida extra-uterina

Hoje completei 40 anos de nascido.

Interromper a gravidez.

Matar a criança.

Impedir que venha ao mundo uma criança deficiente.

Matar uma criança deficiente que já está no mundo.

Fazer planejamento familiar.

Praticar a continência periódica.

Oferecer educação sexual.

Oferecer educação para a castidade.

O aborto só pode ser admitido como meio para salvar a vida da gestante.

O aborto nunca pode ser admitido, nem como fim, nem como meio. A morte do inocente pode às vezes ser tolerada como um segundo efeito de um ato bom.

O aborto é permitido por lei em dois casos: se não há outro meio para salvar a vida da gestante e se a gravidez resulta de estupro (art. 128, Código Penal).

O aborto é proibido por lei em todos os casos. A pena não é aplicada em dois casos, após o fato já praticado, mas não há permissão prévia para abortar.

Um juiz pode dar autorização para abortar. Então o aborto se torna legal.

Se um juiz der “autorização” para abortar, ele se torna co-autor do crime de aborto.

Anápolis, 19 de novembro de 2006.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis

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