(Cada segundo é precioso)

A pressa de Maria Santíssima

“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). A única vez em que Maria Santíssima aparece apressada é quando acaba de receber do anjo Gabriel a notícia da gravidez de sua parenta Isabel, já no sexto mês.

mariavisitaisabel“O amor de Cristo nos compele” (2Cor 5,14), diz São Paulo. Compelida pelo amor de Cristo, que acabava de conceber em seu ventre, Maria foi às pressas ao encontro de outra gestante, que morava em uma cidade de Judá. Acredita-se que essa cidade seja Ain-Karim, situada seis quilômetros a oeste de Jerusalém. Ora, a distância entre Nazaré, onde estava Maria, e Jerusalém, é de aproximadamente 140 quilômetros. Como ela viajou às pressas, talvez tenha demorado uns seis dias para chegar a Ain-Karim.

Mas por que tanta pressa em se dirigir a um lugar tão distante em uma região montanhosa? Nossa Senhora não estava diante da notícia de uma mulher desejosa de fazer um aborto, nem estava correndo para salvar a vida da criança. A criança por nascer (João Batista) era extremamente amada por sua mãe Isabel, que havia dito: “Isto fez por mim o Senhor, quando se dignou retirar meu opróbrio perante os homens” (Lc 1,25). Já idosa e estéril, agora Isabel era mãe.

Por que então tanta pressa? É que a caridade não pode esperar. “A caridade é prestativa” e “não procura o seu próprio interesse” (1Cor 13,4.5). Ao servir o pequeno João Batista, encerrado no ventre de Isabel, Maria servia o próprio Cristo. Parece que ela já pressentia as palavras que diria seu Filho: “o que fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). E ainda: “não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10).

Dizia Dom Manoel Pestana Filho, nosso saudoso Bispo de Anápolis, que não sabemos o bem que fazemos quando fazemos o bem. Ao visitar sua parenta e saudá-la, Maria não era capaz de imaginar que naquela casa ocorreria uma efusão do Espírito Santo, que o teólogo René Laurentin chama de “protopentecostes”.

visitaIsabel “com um grande grito, exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? ’” (Lc 1,42-43). Note-se que o menino Jesus ainda não nasceu, mas Isabel, “repleta do Espírito Santo” (Lc 1,41) chama Maria “a mãe do meu Senhor” e não “a futura mãe do meu Senhor”. De fato, a maternidade começa com a concepção, e não com o parto. “Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu em meu ventre” (Lc 1,44). Cumpriu-se aquilo que o anjo Gabriel havia anunciado a Zacarias: o menino “ficará pleno do Espírito Santo ainda no seio de sua mãe” (Lc 1,15).

Diz São João Paulo II na encíclica Evangelium vitae, citando Santo Ambrósio de Milão (339-397):

O valor da pessoa [personae dignitas], desde a sua concepção, é celebrado ainda melhor no encontro entre a Virgem Maria e Isabel e entre as duas crianças, que trazem no seio. São precisamente eles, os meninos, a revelarem a chegada da era messiânica: no seu encontro, começa a agir a força redentora da presença do Filho de Deus no meio dos homens. ‘Depressa se manifestam – escreve Santo Ambrósio – os benefícios da chegada de Maria e da presença do Senhor. (…) Isabel foi a primeira a escutar a voz, mas João foi o primeiro a pressentir a graça. Aquela escutou segundo a ordem da natureza; este exultou em virtude do mistério. Ela apreendeu a chegada de Maria; este, a do Senhor. A mulher ouviu a voz da mulher; o menino sentiu a presença do Filho. Aquelas proclamam a graça de Deus, estes realizam-na interiormente, iniciando no seio de suas mães o mistério de piedade; e, por um duplo milagre, as mães profetizam sob a inspiração de seus filhos. O filho exultou de alegria; a mãe ficou cheia do Espírito Santo. A mãe não se antecipou ao filho; foi este que, uma vez cheio do Espírito Santo, o comunicou a sua mãe’[1].

Aquela visita serviu de ocasião para que Jesus, um embrião de alguns dias, fizesse o seu primeiro milagre na ordem da graça: a santificação de João, um bebê de seis meses, no ventre de Isabel.

Se tão grande foi a pressa de Maria em visitar uma gestante que amava o seu filho, quanta seria a sua pressa se a gestante a ser visitada pensasse em abortar seu bebê?

O valor de uma visita

Uma simples visita pode mudar tudo. Dom Manoel Pestana Filho contava que certa vez, enquanto andava de automóvel, pediu ao motorista que parasse em certo lugar. Saindo do carro, entrou na casa de alguém para visitar. A pessoa que o recebeu ficou pasma com a presença do Bispo justamente naquela hora. “Então o senhor sabia? Alguém contou para o senhor? ”. Dom Manoel não entendeu absolutamente o motivo do espanto até que lhe foi dito que, naquele exato momento, alguém daquela casa estava para se suicidar. A visita do Bispo fora providencial. Sem o saber, mas deixando-se guiar por uma inspiração divina, Dom Manoel fizera uma visita casual que teve como consequência a salvação de uma vida.

A pressa do Diabo

O “homicida desde o princípio” (Jo 8,44) também tem pressa. Impedido de devorar o filho da Mulher vestida com o sol (Ap 12,1-6), o Diabo desceu para a terra e o mar “cheio de grande furor, sabendo que lhe resta pouco tempo” (Ap 12,12).

Convém lembrar que, embora haja organizações pró-aborto com interesses demográficos, políticos e financeiros, nossos maiores inimigos são legiões de demônios, conforme nos diz São Paulo: “Nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais” (Ef 6,12).

O maior desejo de Lúcifer é matar a Deus. Mas, sendo Deus imortal, Lúcifer volta-se para a imagem de Deus, que é o homem (Gn 1,26), a fim de matá-lo. Desde o princípio o Diabo se apresenta como homicida, ao induzir nossos pais a comerem do fruto que lhes traria a morte (Gn 3,4-5). Entre os homens, porém, ninguém reflete tão bem a imagem de Deus como as crianças. Daí a predileção de Lúcifer, juntamente com os demais anjos decaídos, de matar os pequeninos, justamente aqueles que são preferidos por Jesus (cf. Mt 19,14).

Não nos enganemos. Estamos em uma batalha espiritual, com inimigos espirituais e devemos usar sobretudo armas espirituais.

São João Paulo II disse ao Pe. Paul Marx, fundador da Human Life International, que ele estava fazendo o trabalho mais importante da terra. Esta frase está gravada no sítio da HLI: “You are doing the most important work on earth[2]. Um trabalho tão importante assim é, obviamente, urgente. Não podemos deixar para depois a salvação da vida humana. Corramos, portanto, como Maria Santíssima correu. E não deixemos de pedir a sua intercessão.

 

Anápolis, 9 de outubro de 2017.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis.


 

Oração a Nossa Senhora Protetora dos Nascituros

Dom Eusébio Oscar Scheid, Scj,Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

(Quando compôs a oração era Arcebispo Metropolitano de Florianópolis)

“Maria levantou-se e foi às pressas para as montanhas de Judá” (Lc 1,39).

Senhora e Mãe nossa, é com santa angústia e zelo fraterno que nos dirigimos a ti, amiga e defensora de todas as crianças, nascidas e por nascer.

Tu foste “às pressas” para santificar, por meio do teu Filho, Jesus, a uma criança que estava prestes a nascer. Cuidaste de tudo, com carinho e desvelos de Mãe.

Agora, queremos invocar-te como PROTETORA DOS NASCITUROS, muitos em perigo de serem assassinados, trucidados, antes de verem a luz do dia. É o maior escândalo, o pior crime contra a humanidade toda. O útero materno, querida Mãe, tornou-se o lugar mais inseguro e violento da terra. Tu bem o sabes e, certamente, choras como choraram as mães de Belém, na matança dos seus inocentes filhinhos (Mt 2,16-17).

Vem, depressa, em socorro de todos os NASCITUROS, levando-lhes, com teu Jesus, a certeza e a garantia de VIDA, de sobrevivência digna, de acolhida num lar afetuoso e de merecida educação. Tu o podes fazer, porque levas Jesus contigo, e porque “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).

Antecipadamente, ó Mãe e PROTETORA DOS NASCITUROS, te agradecemos este imenso favor: por Jesus Cristo, teu Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

 



[1]S. JOÃO PAULO II, Evangelium vitae, n. 45, in AAS 87 (1995), p. 451. O destaque é meu. O texto citado de Santo Ambrósio é Expositio Evangelii secundum Lucam, II, 22-23: CCL 14, 40-41.

 

 

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