(sacrifícios de crianças em cultos satânicos)
No filme Nefarius [2023], um psiquiatra, James Martin, é encarregado de examinar um assassino serial, Edward Brady, preso no Centro de Correção de Oklahoma, à espera da execução capital. O médico deve verificar se o condenado é ou não apto a sofrer a pena de morte. Edward é um endemoniado, e seus crimes foram cometidos sob o influxo da possessão diabólica. Dr. Martin, porém, é ateu, e pretende atribuir os crimes de Edward a um distúrbio de personalidade. No diálogo entre o médico e o possesso, o demônio Nefarius – que possui Edward – fala de seu ódio a Deus (o “Inimigo”) e de seu plano de destruir os que Ele ama:
Nosso plano é ferir o Inimigo para destruí-lo. Fazemos isso destruindo a quem ele ama, que são vocês.
O arquidemônio Moloc era comemorado com lançamento de crianças em fogueiras flamejantes, acompanhado pelo rufar de tambores para abafar os gritos. Mais tarde, ergueram uma gigantesca estátua de bronze com os braços estendidos. Quando se jogava um bebezinho naquelas mãos abertas, ele se encolhia diante do metal em brasa.
E prossegue fazendo referência ao aborto que a noiva do médico está para realizar, e da consequente ofensa a Jesus (o “carpinteiro”):
A matança hoje ocorre no útero. Não há gritos. Os restos mortais são jogados no crematório. Você pode imaginar a agonia do carpinteiro quando despedaçamos uma criança dentro do ventre de sua própria mãe?
Em seguida, de pé, erguendo os braços entre as algemas e a corrente, faz uma contagem regressiva para o aborto.
Seu filho não nascido está em nosso altar.
Cinco, quatro, três, dois, um.
Todo o inferno se alegra!
O filme é fictício, mas a história de Moloc é real. A Bíblia contém uma proibição severa de oferecer sacrifícios de crianças a esse falso deus.
Não entregarás um descendente teu para fazê-lo passar pelo fogo em honra de Moloc. Não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor (Lv 18,21).
Confiram-se também Lv 20,2-5; Dt 12,31; 18,10.
Quanto ao pecado da idolatria, São Paulo reconhece que o ídolo é nada, uma vez que há um único Deus vivo e verdadeiro. No entanto, ele adverte que os cultos idolátricos são dirigidos aos demônios.
Que digo, então? Que a carne sacrificada ao ídolo tem algum valor? Ou que o ídolo é alguma coisa? Digo o contrário: é a demônios e não a Deus que os gentios oferecem sacrifícios. Não quero que entreis em comunhão com os demônios (1Cor 10,19-20).
Portanto, o culto a Moloc por meio de sacrifícios de crianças “passadas pelo fogo”, tão comum entre os cananeus, eram verdadeiros cultos satânicos, uma homenagem àquele que é o “homicida desde o princípio” (Jo 8,44). Apesar da proibição da Lei Mosaica e da advertência dos profetas, houve reis de Israel e de Judá que sacrificaram seus filhos a Moloc.
“[Acaz] seguiu o caminho dos reis de Israel. Chegou a sacrificar seu filho no fogo, segundo os costumes abomináveis das nações que o Senhor tinha expulsado de diante dos israelitas” (2Rs 16,3).
“[Manassés] fez passar seu filho pelo fogo, praticou adivinhação e agouros, introduziu necromantes e feiticeiros. Multiplicou o que é mau aos olhos do Senhor, irritando-o” (2Rs 21,6).
“[Os filhos de Judá] construíram o lugar alto no Tofet no vale de Ben-Enom, para passar ao fogo seus filhos e filhas – coisa que nunca ordenei e nunca subiu ao meu coração!” (Jr 7,31)
O recente caso de uma menina de Goiânia, de 13 anos, que, por decisão da Ministra Maria Thereza de Assis Moura, presidente do STJ, foi submetida a um aborto contra a vontade de seu representante legal (o pai), demonstra de maneira inequívoca a ação diabólica.
Com mais de 29 semanas, o bebê permaneceria vivo se fosse expulso por via vaginal ou por cesariana. A solução “humanitária” foi matar a criança ainda no útero por meio de uma injeção de cloreto de potássio em seu coração. O cruel procedimento, conhecido como indução de assistolia fetal, foi realizado no dia 30/07/2024, no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (MG), para onde a menina foi transportada de avião (note-se a pressa de matar!).
Depois da assistolia, a menina precisou suportar 60 horas de um processo doloroso de indução do parto para expelir seu filho morto no dia 2 de agosto. Pressões, mentiras e fraudes de toda sorte foram usadas contra a menina e seu pai pelos interessados em oferecer (a quem?) um inocente morto.
A morte daquele bebê foi motivo de exultação para todo o inferno. Mas, segundo a Comissão Teológica Internacional, no documento “A esperança de salvação para as crianças que morrem sem Batismo” (2007), crianças como ele, vítimas do aborto,
encontram-se em uma situação de solidariedade com os Santos Inocentes. Além disso, estão em uma situação de solidariedade com o Cristo, que disse: “Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). É vital para a Igreja proclamar a esperança e a generosidade, que são intrínsecas ao Evangelho e essenciais para a proteção da vida (n. 86)[1]
Há, portanto, fundada esperança de que a crueldade com que o bebê foi morto tenha sido um batismo de sangue, que supriu a falta do batismo sacramental. Neste caso, mesmo que seu corpo não tenha direito a uma sepultura, sua alma está no Céu gozando da visão beatífica e intercedendo a Deus por nós.
Anápolis, 13 de agosto de 2024.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Vice-presidente do Pró-Vida de Anápolis.
[1] https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20070419_un-baptised-infants_po.html