Como foi a Marcha pela Vida 2003 em Washington

(Um novo senso de esperança entre os participantes. É assim que Marta Pelypec, brasileira, residente nos Estados Unidos, fala da “March for Life 2003”)

 

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Steve e Marta Pelypec

No dia 22 de janeiro passado, às 8 horas, embarcamos em um dos dois ônibus que partiram do estacionamento do Christiana Mall, shopping center localizado em Newark, estado de Delaware.

Nossa organização, Delaware Right to Life, organiza e coordena o transporte para os participantes da March for Life em Washington DC há 29 anos. Esta foi a minha 13a participação.

Diversas escolas católicas já haviam partido bem cedo para participar da Santa Missa celebrada pelo nosso bispo diocesano, Dom Michael Saltarelli que, pelo quinto ano consecutivo, preside essa celebração para os jovens.

Em sua homilia Dom Saltarelli disse: “…os dias gloriosos do aborto já acabaram, mas nós não chegamos ao fim ainda. Como católicos, nossa obrigação é a de sermos solidários com os mais fracos, os oprimidos e os invisíveis’’ — exortando os jovens de todo o país a continuar respondendo ao chamado de servir e defender a vida.

Os outros ônibus do meu estado, num total de 9, saíram de paróquias e escolas na área. Já na Interstate 95 nosso ônibus ia ultrapassando ou sendo ultrapassado por ônibus de outros estados, todos identificados com mensagens pró-vida.

Eram 10h 40min quando chegamos à Basílica da Imaculada Conceição, localizada em frente ao campus da Universidade Católica. Uma multidão de jovens alegres e barulhentos ocupava a escadaria da linda igreja. Apesar do frio terrível de 8 graus negativos, ninguém reclamava nem da temperatura tão baixa e nem do vento. Felizmente não chovia e não nevava, e isso era suficientemente agradável.

Fomos imediatamente para o refeitório imenso da basílica, que ocupa quase que a metade da cripta, para tomar nosso lanche preparado de véspera. Esperar na fila para comprar comida nesse dia é querer não chegar a tempo para as festividades. Um servente me disse que era possível que a comida acabasse mais cedo do que previam, porque até naquela hora já haviam servido mais de 25% de refeições do que nos anos passados e ainda eram 11 horas.

Terminamos nosso lanche e fomos fazer uma visitinha rápida ao Santíssimo Sacramento exposto em uma das capelas da cripta. No átrio principal da basílica várias missas estavam sendo celebradas por bispos e sacerdotes vindos de outros estados, acompanhando suas ovelhas e paroquianos.

Na noite do dia 21 a basílica estivera completamente lotada para uma Missa solene celebrada pelo bispo franciscano Dom O’Maley, transmitida para todo o país pela EWTN, a emissora de TV realmente católica. Após essa celebração eucarística, grupos se revezaram em oração durante toda a noite, em vigília.

As atividades haviam tido início no dia anterior com a convenção anual realizada no Hyatt-Regency Capitol Hill. O tema deste ano foi “A Afirmação da Santidade de CADA Vida Humana através de palavras e ações.” Os palestrantes foram:

Dr. Harold J. Cassidy, J.D. da organização que trata da ilegalidade do aborto, Santa Marie Litigation Project;
Brian W. Clowes, M.S., Ph.D. da Human Life International;
Camille Elizabeth De Blase, M. A do Center for the Life Principles;
Stehpen M. Krason, J.D. da Franciscan University of Steubenville;
Allan Parker da Texas Justice Foundation;
Pe. Frank Pavone diretor fundador da Priests for Life (“Sacerdotes pela Vida”)
e Jimberly Schuld, escritora, autora do The Guide to Feminism Organizations.

Às 10 horas um grupo de estudantes fez entrega de rosas vermelhas a cada um dos congressistas, deputados e senadores, com uma mensagem pró-vida.

Ao meio dia voltamos a embarcar em nosso ônibus e fomos em direção ao centro. Desde setembro de 2001 o trânsito ficou muito complicado na capital federal. Depois de muitas voltas e desvios fomos deixados a três quadras do local da concentração. Não sei como descrever a multidão que ali se aglomerava. Havia tanta, mas tanta gente, que nem dava para a gente ver, nem de longe, o palanque onde estavam as autoridades.

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Dr. Robert F. Rea, Ministro e Professor do Seminário Lincoln Christian Collede and Seminary, Lincoln, Ilinois, proferiu as preces do início do “rally”. Em seguida o Supreme Knight of Columbus [Supremo Cavaleiro de Colombo] liderou a recitação da “promessa de lealdade” à bandeira americana” por tudo o que essa representa … “with justice for all” (com justiça para todos) e nós completamos:nascidos e nascituros.

O Presidente havia sido convidado para falar durante o “rally”. Foi então que o telefone celular da presidente da March for Life, Nellie Gray, recebeu a ligação do presidente da República, George W. Bush, que se encontrava no estado de Missouri.

O maior número de participantes da March vem do estado de Missouri. Portanto não foi nenhuma surpresa que esses tenham recebido uma menção tão merecida pelo presidente, que agradeceu a presença de todos e da nossa insistência em lutar pelos nascituros.

Este é o segundo ano que o nosso presidente nos envia uma mensagem. Desde o ano passado não mais nos sentimos como estranhos em nossa própria terra. Não mais nos sentimos como criminosos na terra comandada previamente por simpatizantes e protetores do crime. Temos o nosso presidente do nosso lado. Isso nos dá esperança. Sabemos que ele não é perfeito, mas que é um homem de caráter que está fazendo tudo o que está em seu poder para cumprir a promessa que nos fez durante a sua eleição. A verdade é que, mesmo não gostando, a imprensa está reconhecendo que o nosso trabalho de educar e informar está surtindo efeito. A grande maioria de jovens já considera o aborto um assassinato, fato que não ocorria há 15 anos atrás.

No palanque havia 32 Cardeais e Bispos, o maior número até então. Não poderia estar ausente a nossa voz no congresso, Rep. Chris Smith do estado de Nova Jersey, grande lutador pela causa dos santos inocentes. Infelizmente (ou felizmente?) não havia forma de ouvir os discursantes, mas aproveitávamos para ler os cartazes criativos. Este ano dominou um cartaz azul marinho com a inscrição em branco “Women deserve better than abortion” [As mulheres merecem mais do que o aborto] impresso por uma organização de mulheres “silent no more”. Essas quebraram o silêncio para contar o horror que passaram após se submeterem a um aborto. Uma das líderes desse movimento é a atriz do filme Verão de 1942, Jennifer O’Neil (www.womendeservebetter.com) que testemunhou no congresso sobre as conseqüências psicológicas do aborto que fez com 22 anos.

Vários congressistas e autoridades tiveram a oportunidade de expressar suas esperanças de ver um dia o crime do aborto encarado como tal e não como um “direito” adquirido pela gestante. Sua Excia reverendíssima Dom Wilton D. Gregory, Bispo de Belleville, Ilinois, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos Americanos, fez a oração e bênção de encerramento.

Às 13h 30min a caminhada começou. Na frente jovens de Owensboro, do estado de Kentucky, vestidos de jaquetas cor-de-abóbora carregavam a faixa da extensão da Constitution Avenue. As bandeiras foram carregadas por jovens, estudantes da Lincoln Christian College de Illinois. Seguindo 45 jovens carregando caixões infantis com decoração azul e rosa, cada um representando 1 milhão de mortes de inocentes (totalizando 45 milhões) nesses últimos 30 anos. Logo atrás vinha o sino, réplica do Liberty Bell de Filadélfia, doado por um grande banco, que era acionado como para enterro.

Quando chegamos perto do edifício da Suprema Corte, no topo da colina, podíamos ver a multidão que ainda não conseguira sair do Elipse.

Meu grupo se dirigiu para os gabinetes dos senadores representantes de Delaware e os outros participantes também procuraram os dos representantes dos seus estados. Todos os participantes foram procurar os seus representantes no congresso ou senado para educá-los sobre a condição de pessoas dos nascituros a partir do momento de sua existência na fertilização. Como sempre, os senadores do meu estado não apareceram para nos cumprimentar. Assinamos seus livros e lhes deixamos mensagens. Atualmente o que almejamos é que eles não obstruam os candidatos do presidente para substituir juízes que estão para se aposentar. A maioria deles tomaram posse na administração passada e isso significa que são parte do esquadrão da morte (infelizmente). Todos os candidatos que obedecem à Constituição foram rejeitados antes da eleição passada.

Os que puderam e programaram ficaram em Washington para participar do Rose Dinner no Hyatt. O palestrante foi o Senador estadual do estado de Nebraska, Mike Foley. O show musical, como em todos anos, foi feito pelo grupo “Sounds of Liberty” da Liberty Univesrsity de Lynchburg, Virginia.

Eram 15h 45min quando nos encaminhamos para o estacionamento, atrás da Union Station, para procurar o nosso ônibus. A caminhada continuava. O percurso de menos de duas milhas estava completamente lotado pela multidão. Quando todos os passageiros chegaram, partimos de volta a Delaware. Naquele momento eu me lembrei das Escrituras da Missa do domingo anterior quando Samuel disse: “Fale, Senhor, seu servo está escutando”.

Nós, Senhor, ouvimos o Seu chamado. Nós estamos escutando, Senhor, e caminhando, caminhando… e aqui estaremos para atender o Seu chamado no próximo ano, se for da Sua vontade; com chuva ou neve, debaixo do frio, mas com a alma aquecida com o Seu Amor, mesmo que a imprensa continue nos ignorando. Nós sabemos, Senhor, que é essa a Sua vontade e nós estamos dispostos a continuar nesta luta até que todos os tipos de aborto sejam uma idéia revoltante como o é matar um recém-nascido. Amém.

[termina aqui o artigo de Marta Pelypec]

Anápolis, 09 de fevereiro de 2003.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis

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