(quando a Igreja deve emitir juízos também sobre realidades políticas)
Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica:
Faz parte da missão da Igreja emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas[1].
Portanto, quando não se trata de preferências ou gostos pessoais, mas de temas moralmente fundamentais como a legalização do aborto, o reconhecimento das “uniões homossexuais”, o ensino da ideologia de gênero nas escolas, a Igreja pode e deve posicionar-se.
Em um Estado sadio, tais temas nem sequer seriam objeto de discussão. Quem – em sã consciência – ousaria negar que a vida humana é inviolável, que a família natural é alicerçada no matrimônio entre um só homem e uma só mulher, que entre os dois sexos há diferenças naturais que não dependem da sociedade ou da cultura?
Mas como vivemos em um Estado “louco” (ou “laico”?), em que até o Direito Natural é questionado, a Igreja vê-se obrigada a intervir para lembrar que há valores não negociáveis em política.
Como já expusemos nas eleições de 2014, convém o usar o método PPP para a seleção dos candidatos. Primeiro, o Partido, depois, o Passado, por último as Propostas do candidato.
Partido
Um exemplo de partido incompatível com a moral cristã é o Partido dos Trabalhadores (PT). No 6º Congresso Nacional do PT, ocorrido em junho de 2017, foram aprovadas resoluções que incluem a convocação de uma nova Assembleia Constituinte (n. 33), sintetizada em treze capítulos (n. 34). No capítulo 12, dedicado ao “Direito das mulheres”, lê-se: “Descriminalização do aborto e regulamentação de sua prática no serviço público de saúde”. No capítulo 13, dedicado aos “Direitos humanos”, lê-se: “Descriminalização progressiva do consumo de drogas. Constitucionalização dos direitos de casais homoafetivos como entidade familiar plena”[2].
Todo candidato filiado ao PT é obrigado a acatar essas resoluções. O Estatuto do PT põe como requisito para ser candidato pelo Partido “assinar e registrar em Cartório o ‘Compromisso Partidário do Candidato ou Candidata Petista’” (art. 140, c). Tal assinatura, diz o Estatuto, “indicará que o candidato ou candidata está previamente de acordo com as normas e resoluções do Partido, em relação tanto à campanha como ao exercício do mandato” (art. 140, §1º). Se o político contrariar resoluções como essas, que apoiam o aborto, as drogas e as uniões homossexuais, “será passível de punição, que poderá ir da simples advertência até o desligamento do Partido com renúncia obrigatória ao mandato” (art. 140, §2º) [3].
Ao defender o aborto, o PT se mostra coerente com a ideologia socialista que ele abraça. O artigo 1º de seu Estatuto diz que o objetivo do Partido é “construir o socialismo democrático”. Ora, São João Paulo II explica que
o erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social. […] O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral[4].
O socialismo vê na criança por nascer algo que está subordinado à vontade da sociedade. Se for proveitosa para a sociedade, que nasça. Se for trazer ônus ao Estado, se trouxer mais custos que benefícios, que seja abortada.
Eis a lista dos partidos que se declaram comunistas, socialistas e/ou favoráveis à causa antivida e antifamília.
Partido dos Trabalhadores (PT) – 13
Partido Comunista Brasileiro (PCB) – 21
Partido Popular Socialista (PPS), sucessor do PCB – 23
Partido Comunista do Brasil (PC do B) – 65
Partido da Causa Operária (PCO) – 29
Partido Democrático Trabalhista (PDT) – 12
Partido da Mobilização Nacional (PMN) – 33
Partido Pátria Livre (PPL) – 54
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – 50
Partido Socialista Brasileiro (PSB) – 40
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) – 16
Partido Verde (PV) – 43[5]
Rede Sustentabilidade (REDE) – 18[6]
Exclua, portanto, os candidatos cujos números começam por
13, 21, 23, 65, 29, 12, 33, 54, 50, 40, 16, 43 e 18
Não votar em tais candidatos – mesmo que sejam seus amigos – é um ato de correção fraterna. Votar neles é ser cúmplice do erro que eles cometeram ao filiar-se a um partido anticristão.
Passado
Excluídos os candidatos pertencentes aos partidos acima, é preciso agora examinar o passado de cada candidato. Se ele já foi parlamentar, deve-se examinar como foi o seu voto nas questões relativas à vida e à família.
Em http://www.providaanapolis.org.br/ pode-se clicar à esquerda em “Como votaram” e obter-se o posicionamento passado de alguns candidatos em relação ao aborto, à destruição de embriões humanos (lei de biossegurança) e à ideologia de gênero nas escolas.
Propostas
As propostas só merecem ser examinadas se o candidato já passou pelo crivo do Partido e do Passado. Se o Partido é bom (ou pelo menos neutro) e se no Passado o candidato não teve envolvimento com o aborto, a ideologia de gênero nem com a causa socialista… tem chance de ser um bom candidato.
Ainda assim, vale a pena ouvir suas propostas. Propostas muito vagas (sou a favor da vida, sou a favor da boa educação…) valem menos do que propostas concretas (sou contra a legalização do aborto, quero excluir a ideologia de gênero das escolas, quero que os pais tenham o direito de decidir sobre a educação de seus filhos, estou disposto a vetar uma lei abortista aprovada pelo Congresso, quero acabar com o desvio de verbas públicas para o aborto no SUS…)[7].
Anápolis, 1º de setembro de 2018.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.
[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 2246, citando “Gaudium et Spes”, n. 76.
[2] PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções aprovadas pelo 6º Congresso Nacional, jun. 2017, p. 39. http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2017/07/6-congresso-pt.pdf
[3] PARTIDO DOS TRABALHADORES. Estatuto. http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/03/ESTATUTO-PT-2012-VERSAO-FINAL-alterada-outubro-de-2015-2016mar22.pdfESTATUTO-PT-2012-VERSAO-FINAL-alterada-outubro-de-2015-2016mar22.pdf
[4] JOÃO PAULO II, Encíclica Centesimus annus, 1991, n. 13
[5] O PV não se declara socialista, mas em seu Programa defende o homossexualismo e a legalização do aborto (cf. http://pv.org.br/wp-content/uploads/2011/02/programa_web.pdf).
[6] A REDE não se declara abortista, mas Marina Silva disse que pelo menos 70% dos fundadores de seu Partido defendem o aborto, a liberação da maconha e a união de pessoas do mesmo sexo (Cf. Paulo GAMA, 70% dos fundadores da Rede defendem união gay e legalização da maconha, diz Marina. Folha de S. Paulo, 17 jul. 2013, in https://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/07/1312738-70-dos-fundadores-da-rede-defendem-uniao-gay-e-legalizacao-da-maconha-diz-marina.shtml). Além disso, é sintomático que a REDE tenha se coligado ao PV, declaradamente abortista.
[7] Deve-se recordar que, mesmo em caso de gravidez resultante de (suposto) estupro, o aborto permanece sendo crime, haja ou não aplicação da pena ao criminoso. Mas se o aborto é crime, como o Estado pode financiá-lo?