(“O aborto é o maior destruidor da paz”)
Em 31 de agosto de 2016, os meios de comunicação concentravam sua atenção na queda de uma mulher. O Senado Federal aprovava o “impeachment” da presidente Dilma Rousseff, pondo fim aos treze anos da era petista. O PT enfim saía do poder, deixando atrás de si uma multidão de bebês abortados, de crianças e adolescentes corrompidos e de famílias desestruturadas.
Poucos dias depois, em 4 de setembro de 2016, a glorificação de uma outra mulher captava as atenções. Era Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), intrépida defensora da vida, que era declarada santa pelo Papa Francisco diante de uma multidão de 120 mil pessoas reunidas em Roma. Sobre ela assim falou o Santo Padre na homilia da Santa Missa de canonização:
Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma dispensadora generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos, através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles abandonados e descartados. Comprometeu-se na defesa da vida, proclamando incessantemente que «quem ainda não nasceu é o mais fraco, o menor, o mais miserável»[1].
A heroína agora canonizada, vestida com um sári branco, percorreu o globo condenando o aborto sem se importar se isso causaria constrangimentos ou má aceitação.
Um fato curioso teria ocorrido em Washington durante o governo Clinton. Enquanto almoçava na Casa Branca, a primeira dama Hillary Clinton, segundo dizem, perguntou a Madre Teresa porque a América [os Estados Unidos] não tinha ainda eleito uma mulher presidente. “Provavelmente ela foi abortada”, respondeu Madre Teresa[2].
Durante o seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel da Paz de 1979 em Oslo, Noruega, Madre Teresa fez uma firmíssima condenação do aborto.
O maior destruidor da paz hoje é o grito da inocente criança por nascer.
Pois se uma mãe pode assassinar seu próprio filho, no seu ventre, o que resta pra mim e para você? Matarmos um ao outro.
Na Escritura está escrito: Mesmo se a mãe pudesse esquecer o filho, eu não te esqueceria. Eu te gravei na palma da minha mão (Is 49,15-16).
Mesmo se a mãe pudesse esquecer… Mas hoje milhões de crianças por nascer estão sendo mortas, e nós não dizemos nada.
[…]
Para mim, as nações que legalizaram o aborto são as mais pobres. Elas têm medo de um pequenino! Têm medo de uma criança por nascer! E a criança tem que morrer. Porque eles não querem alimentar mais uma criança! Porque eles não querem educar mais uma criança! A criança tem que morrer.
E aqui eu lhes peço em nome daqueles pequeninos, porque foi aquela criança por nascer que reconheceu a presença de Jesus quando Maria veio visitar Isabel, sua prima. Como lemos no evangelho, no momento em que Maria entrou na casa, o pequenino no ventre de sua mãe saltou de alegria, reconheceu o Príncipe da Paz.
Assim, hoje vamos aqui fazer uma firme resolução. Vamos salvar cada criancinha. Cada criança por nascer. Dê-lhes a chance de nascer.
É o que estamos fazendo. Estamos combatendo o aborto com a adoção. E o bom Deus tem abençoado tanto nosso trabalho, que temos salvado milhares de crianças, e milhares de crianças têm encontrado uma casa onde são amadas, onde são queridas, onde são cuidadas. Trouxemos tanta alegria para as casas em que não havia uma criança!
Por isso hoje peço a Vossas Excelências aqui, diante de todos que vêm de diferentes países: vamos todos rezar para que tenhamos coragem de defender a criança não nascida, e dar à criança a oportunidade de amar e ser amada. E acho que, com a graça de Deus, seremos capazes de trazer a paz ao mundo[3].
Em 1985 ela foi uma convidada especial no 40º aniversário de fundação das Nações Unidas durante o auge da Guerra Fria. Eis suas palavras:
Todos nós queremos a paz, e ainda estamos com medo das armas nucleares e dessa nova doença [AIDS]. Mas nós não temos medo de matar uma criança inocente, aquela pequena criança por nascer, que foi criada com o mesmo propósito: amar a Deus e amar a você e a mim.
Isso é uma contradição. E hoje eu sinto que o aborto se tornou o maior destruidor da paz.
[…]
Por isso, se realmente queremos paz […], façamos a firme resolução de que em nossos países, em nossas cidades, não permitiremos que uma única criança se sinta indesejada, se sinta não amada, jogada fora da sociedade. E ajudemos uns aos outros a fortalecer essa resolução.
Que em nossos países aquela terrível lei do assassinato de inocentes, de destruição da vida, de destruição da presença de Deus seja removida de nosso país, de nossa nação, de nosso povo, de nossas famílias[4].
No Café da Manhã de Oração Nacional de 1994 em Washington D.C. (EUA), ela surpreendeu Bill e Hillary Clinton, que se sentavam perto dela, com comentários mordazes contra o aborto.
Eu sinto que o maior destruidor da paz hoje é o aborto, porque é uma guerra contra a criança, o homicídio direto de uma criança inocente, assassinato feito pela própria mãe.
Se aceitarmos que a mãe possa matar até o seu próprio filho, como poderemos dizer às pessoas que não se matem uns aos outros?
[…]
Um país que aceita o aborto não está ensinando seu povo a amar, mas a usar de qualquer violência para obter o que quer. Por isso é que o maior destruidor do amor e da paz é o aborto[5]
Em 1995, em mensagem dirigida à Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher em Beijing, Madre Teresa denunciou os postulados da nascente “ideologia de gênero”, que pretendia nivelar homens e mulheres.
Não entendo por que algumas pessoas estão dizendo que homens e mulheres são exatamente a mesma coisa, e estão negando as belas diferenças entre homens e mulheres.
[…]
O poder especial de amar que pertence à mulher se vê mais claramente quando ela se torna mãe. A maternidade é o dom de Deus às mulheres. Quão gratos devemos ser a Deus por esse maravilhoso dom, que traz tanta alegria para o mundo inteiro, mulheres e homens!
Podemos destruir esse dom da maternidade, especialmente pelo mal do aborto, mas também pensando que outras coisas como empregos ou posições são mais importantes que amar, doar-se aos outros.
Nenhum emprego, nenhum plano, nenhuma posse, nenhuma ideia de “liberdade” pode tomar o lugar do amor. Assim, tudo que destrói o dom de Deus da maternidade destrói seu mais precioso dom às mulheres: a capacidade de amar como mulher.
Deus nos disse: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Assim, eu primeiro tenho que amar a mim mesma corretamente, e então amar o meu próximo como a mim. Mas como eu posso amar a mim mesma a não ser que eu me aceite como Deus me fez? Os que negam as belas diferenças entre mulheres e homens não estão aceitando a si mesmos como Deus os fez, e assim não podem amar o seu próximo. Eles trarão somente divisão, infelicidade e destruição da paz para o mundo. Por exemplo, como eu disse frequentemente, o aborto é o maior destruidor da paz no mundo hoje. E aqueles que querem fazer mulheres e homens a mesma coisa são todos a favor do aborto[6].
Pode parecer exagerada a insistência de Santa Teresa de Calcutá em falar contra o aborto. Mas ai de nós se um dia nos faltarem vozes como a dela, que sacudam nossas consciências diante desse crime que brada aos céus.
Anápolis, 12 de setembro de 2016.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.