(“Ela será salva pela sua maternidade” – 1Tm 2,15)

 

Dizia São João Paulo II em sua carta apostólica sobre a dignidade e a vocação da mulher, no ano 1988:

O ser genitores – ainda que seja comum aos dois – realiza-se muito mais na mulher, especialmente no período pré-natal. É sobre a mulher que recai diretamente o ‘peso’ deste comum gerar, que absorve literalmente as energias do seu corpo e da sua alma. É preciso, portanto, que o homem seja plenamente consciente de que contrai, neste seu comum ser genitores, um débito especial para com a mulher.

[…]

Considera-se comumente que a mulher, mais do que o homem, seja capaz de atenção à pessoa concreta, e que a maternidade desenvolva ainda mais esta disposição. O homem – mesmo com toda a sua participação no ser pai – encontra-se sempre ‘fora’ do processo da gestação e do nascimento da criança e deve, sob tantos aspectos, aprender da mãe a sua própria ‘paternidade[1].

Desde criança, a mulher brinca de “mãe” e de “boneca”. Repreende com razão o seu irmão, que maltrata os passarinhos.

Entre os animais, frequentemente o macho, após o acasalamento, abandona os filhotes. A fêmea, porém, cuida deles com um instinto feroz. É capaz de arriscar a vida, enfrentando qualquer predador para defender sua ninhada.

Por abrigar durante nove meses a criança dentro de si, a mãe e o filho formam como que uma só coisa, algo que os biólogos chamam simbiose. Continuam sendo dois, mas intimamente unidos. E depois do nascimento, será ainda a mãe que vai dispor de seu corpo para produzir o leite que seu filho vai sugar, até que possa tomar alimento sólido.

A comunicação mãe-filho é algo divino. A criança sente as emoções da mãe, dorme quando ela dorme, assusta-se quando ela se assusta, ouve os sons que ela emite e acalma-se quando ela entoa alguma cantiga de ninar.

Depois de nascida a criança, a mulher é naturalmente mais jeitosa que o homem para segurá-la entre os braços. A camada de gordura que reveste a pele da mulher torna-a apta a aconchegar o neném. Sua voz não assusta o bebê, como a voz masculina, e seu rosto pode encostar-se à pele da criança sem o perigo de machucá-la, como poderia fazer a barba do pai.

É óbvio – e não deveria ser preciso reafirmar o óbvio – que a missão de gerar e defender a vida foi confiada de modo particular à mulher. Se para qualquer ser humano a visão de crianças esquartejadas e lançadas ao lixo é repugnante, muito mais o é para a mulher, que se desmancha de carinho por um bebê que chora. Não foi a filha do Faraó quem resolveu adotar Moisés quando o viu chorando num cesto que boiava sobre o rio Nilo (Ex 2,5-10)?

Por meio do profeta Isaías, Deus nos diz:

Dissera Sião: ‘Javé abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim’. Pode, acaso, uma mãe esquecer o próprio filhinho, não se enternecer pelo fruto das suas entranhas? Pois bem; ainda que tais mulheres dele se esqueçam, eu, porém, não me esquecerei de ti (Is 49,14-15)[2].

No momento de dificuldade, não é o nome da mãe que a criança pronuncia instintivamente? Não é dela que a criança aprendeu a receber socorro imediato, ao contrário do pai, que se ausenta para o trabalho e nem sempre está disponível?

De tudo quanto foi exposto até agora, torna-se assombroso pensar que quem defenda com unhas e dentes a legalização do aborto sejam, em primeiro lugar, não os homens, mas as mulheres que ocupam cargos políticos. Elas são em número reduzido, mas fazem um estrago que nem todos os homens juntos são capazes de fazer. Por que será? Será que ao ingressarem na política, elas perdem de vista sua sublime vocação à maternidade?

Diz um ditado latino que “a corrupção do ótimo é péssima” (corruptio optimi pessima est). A mulher, chamada por Deus a ser a defensora número 1 da vida, quando se corrompe, torna-se pior que o homem na promoção do aborto.

Na qualidade de homem, na qualidade de alguém que não é mulher, peço a vocês, mulheres, que não se cansem de ser mulheres. Lembrem-se do que dizia São João Paulo II:

A mulher – em nome da libertação do ‘domínio’ do homem – não pode tender à apropriação das características masculinas, contra a sua própria ‘originalidade’ feminina. Existe o temor fundado de que por este caminho a mulher não se ‘realizará’, mas poderia, ao invés, deformar e perder aquilo que constitui a sua riqueza essencial. Trata-se de uma riqueza imensa. Na descrição bíblica, a exclamação do primeiro homem à vista da mulher criada é uma exclamação de admiração e de encanto, que atravessa toda a história do homem sobre a terra[3].

Mulheres, não se envergonhem de dizer que são donas de casa, que trabalham no lar. Pois a presença da mulher no lar é insubstituível e não se troca por todo o dinheiro que ela poderia ganhar trabalhando fora.

Não desejem “competir com o homem”, pois entre homem e mulher não deve haver competição e sim cooperação. Ambos foram feitos para se completarem, e não para se digladiarem. O papel que vocês desempenham junto aos filhos, acreditem, é muito mais valioso que o papel do marido que sai de casa para obter o sustento da família.

Não se sintam mal ao verem que a história costuma apresentar como grandes personagens os homens, deixando as mulheres na obscuridade. Pois os alicerces que sustentam os edifícios colossais também ficam ocultos sob a terra. E o que seria de nossas cidades se não fossem eles? Por favor, não queiram deixar de ser alicerces para se tornarem fachadas.

Não se sintam incomodadas (como se sentem as feministas) ao verem que a maior parte dos cargos públicos é ocupada pelos homens. Que seria das famílias e das crianças se todas as mulheres decidissem abandonar o seu lar e trabalhar fora? O trabalho doméstico é digno e não pode ser desvalorizado.

Não pensem que somente as mulheres são capazes de defender os interesses das mulheres, como dizem as feministas. Pois homem e mulher, chamados a se tornarem uma só carne, podem e devem defender um ao outro. Nada impede que os homens que participam da vida pública defendam as mulheres com que se casaram e a quem amam. Dizer que apenas a mulher pode defender e representar a mulher é dizer que homem e mulher são, por natureza, inimigos. Tal inimizade é totalmente alheia ao que nos ensina o Cristianismo.

Vocês, que no seio da família são o coração, não queiram ser ao lado dos homens uma segunda cabeça. Que seria de um organismo sem um coração, mas com duas cabeças? Um monstro. Assim ocorre com tantas famílias, em que a mulher, renunciando à sua ternura, resolve tornar-se um segundo homem, procurando empregos fora do lar e tentando adquirir independência econômica.

Não queiram ser independentes dos homens, pois não há homem que seja independente da mulher. Todo homem depende da mulher que cuida de seu lar, faz a sua comida, lava suas roupas e o tranquiliza em suas aflições. Se o homem é dependente da mulher, por que a mulher quererá ser independente do homem?

Não se envergonhem de ter filhos, e muitos filhos. Pois o Criador disse ao primeiro casal: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). E não é possível encher a terra com apenas dois ou três filhos. Tenham um coração de mãe, no qual , segundo o ditado, “sempre cabe mais um”. Não sejam como tantas que têm o coração tão estreito, que após o segundo filho já procuram laquear-se ou envenenar-se com anticoncepcionais.

Lembrem-se de que para a mulher, ser mãe é mais do que uma vocação: é salvação. “Ela será salva pela sua maternidade, desde que, com modéstia, permaneça na fé, no amor e na santidade” (1Tm 2,15).

mariaQual é o modelo de mulher? Maria. Ela é a virgem do silêncio. Em toda a Bíblia (do Novo Testamento) encontram-se pouquíssimas palavras dela. Costumava ouvir a Palavra de Deus e os acontecimentos de sua vida, meditando-os em seu coração (Lc 2,19.51). Quanto ao orgulho e à vaidade, nada mais distante de Maria. Ela chama a si mesma “serva”, e quando recebe elogios de Isabel (cheia do Espírito Santo) transfere-os a Deus no seu cântico “Magnificat” (Lc 1,46-55). Ela disse “sim” a Deus e à Vida que seria gerada em seu seio: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela defendeu a vida de seu Filho até a morte (Jo 19,25), e morte de cruz, quando uma espada de dor lhe transpassou a alma (Lc 2,35). No domingo da Ressurreição, ao contrário das outras mulheres, ela não foi ao sepulcro procurar entre os mortos “aquele que vive” (Lc 24,5), pois acreditou que seu Filho ressuscitaria. Hoje ela está na glória, “vestida de sol, tendo a lua sob os pés e sob a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Cheia de luz, cheia de Deus, pois “Deus é luz” (1Jo 1,5), Maria é aquela a quem o anjo um dia chamou “cheia de graça” (Lc 1,28).

Ela, que gerou o Autor da Vida, mais do que ninguém pode conduzir as mulheres a serem fiéis a sua vocação de mães e defensoras da vida. Desta vocação, nenhuma mulher está excluída. Nem as solteiras, nem as religiosas consagradas. Pois a maternidade suprema não é aquela que consiste em trazer um filho no ventre e amamentá-lo, mas em ouvir a Palavra de Deus e pô-la em prática (Lc 8,21), como fez Maria.

Anápolis, 14 de março de 2016

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

 


[1] JOÃO PAULO II, Mulieris dignitatem, 1988, n. 18.

[2] Citado em Mulieris dignitatem, n. 8. Os grifos são da carta apostólica.

[3] JOÃO PAULO II, Mulieris dignitatem, 1988, n. 10.

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