Diante da obstinação do Ministro da Saúde José Serra em manter uma Norma Técnica, por ele assinada, que instrui os hospitais públicos a abortar crianças de até cinco meses, geradas em um estupro, convém citar palavras de algumas mulheres sobre o assunto.
O texto a seguir é de Sueli Caramelo Uliano, Mestra em Letras pela USP (Universidade de São Paulo) e professora da Universidade São Judas Tadeu.
“Amar os filhos, ser mãe, é, como vimos, o que há de mais profundo no ser feminino. Por isso, a simples noção de ‘gravidez indesejada’ corrompe a mulher no mais íntimo do seu ser. E nem falemos no caso do aborto. Eliminar um filho concebido é uma atitude tão hedionda que só se pode explicar por descalabros sentimentais, por uma insegurança doentia, por infidelidade crônica ou por um egoísmo visceral.
O argumento que tantas vezes se esgrime – o de que a mulher deve ser ‘dona do seu próprio corpo’ – evidentemente não se aplica ao caso, porque qualquer mulher, por mais iletrada que seja,sente e sabe que a criança que traz no seu seio não é um simples apêndice, mas constitui um novo ser, com o seu próprio corpo, com a sua própria vida. Por isso, tem todo o direito a essa vida, às vezes apesar dos pais que a conceberam. Se tiver sido gerada por um ato de violência, então, mais do que nunca, será preciso ampará-la como vítima e amá-la como companheira de infortúnio. O amparo legal concedido ao aborto na gravidez ocorrida em atos de estupro faz-me lembrar a fábula do lobo e o cordeiro: ‘Se não foi você, foi seu pai’ – essa ó a justificativa que o lobo dá para devorar o cordeiro” (ULIANO, Sueli Caramello. Por um novo feminismo. São Paulo: Quadrante, 1995. p. 40).
O maravilhoso texto acima requer apenas um reparo: o aborto na gravidez ocorrida em atos de estupro não tem “amparo legal”. Trata-se de uma prática ilegal, inconstitucional e criminosa, embora oficializada pelo Ministério da Saúde.
A seguir, palavras de Johanna Souilljee, uma batalhadora pró-vida da cidade de Não Me Toques (RS), indignada com a Norma Técnica do aborto:
“Eu tenho uma idéia melhor, até fantástica!!
Já que se tem tanta vontade de ver sangue, mata-se primeiro o estuprador. Este pode morrer logo! Imediatamente.
Depois de 9 meses, mata-se a mulher que provocou o estuprador. Aí o único inocente da história pode viver.
Acho que então se procede com muito mais justiça!!!” (carta, 23/08/2001)
Agora as palavras da Sra. Carlinda José da Silva Flávio, entrevistada por mim em 24/11/1997 no programa radiofônico “Em defesa da vida”, da Rádio Voz do Coração Imaculado, Anápolis, GO. Dona Carlinda foi violentada em 1973, com 20 anos de idade. O fruto desse estupro foi Cíntia Aparecida Flávio. Na época da entrevista, Dona Carlinda tinha 45 anos, sua filha Cíntia tinha 25 anos, e o filho de Cíntia, Rafael Francisco Flávio, tinha 3 anos. Ouçamos um trecho da entrevista (a linguagem é coloquial):
— Após o estupro, a senhora percebeu logo que estava grávida?
— Não. Eu fui perceber já fazia quatro ou cinco meses.
— Quando a senhora percebeu, teve a tentação de fazer aborto?
— Aborto? Nunca. Jamais.
— Há pessoas que dizem que em caso de estupro, o aborto seria a solução. A senhora concorda com isso?
— De jeito nenhum! Isso não pode acontecer. Mãe nenhuma que acontecer uma coisa dessas pode imaginar que o aborto é a solução.
— Se a senhora tivesse abortado, o que estaria sentindo hoje?
— Eu acho que eu estava num hospício.
— Por quê?
— Porque o remorso é muito grande. Porque só em pensar em suicidar com ela, até hoje eu não tenho paz.
— A senhora teve tentação de suicídio?
— Tive. Quando eu descobri que estava grávida, saí daqui (de Anápolis) para Brasília justamente para me suicidar. Quando eu cheguei na Rodoviária, eu vi o viaduto. Na minha imaginação, se eu caísse naquele viaduto ninguém iria descobrir. Então ela (Cíntia) começou a mexer muito na minha barriga. Quando eu chegava na beira do viaduto… eu cheguei às 10 horas da manhã sem destino nenhum… Meu destino era suicídio mesmo. Quando eu cheguei às 10 horas da manhã, fiquei até as 5 horas da tarde. Nesse período eu fui várias vezes na beira do viaduto e não tive coragem de me aproximar. Por quê? Porque a minha Mãe do Céu estava junto comigo. Quando eu ia pular, ela (Cíntia) dava aquele tremido na minha barriga e eu escutava uma voz: “Filha, não faz isso”. Então eu tenho certeza que não foi minha mãe carnal, mas foi minha Mãezinha do Céu que não deixou eu fazer esse tipo de loucura.
— Que ótimo!. Então a senhora não acabou com sua vida, nem com a vida de sua filha. E agora, a senhora já é até vovó, não é?
— Já sou vovó.
— Porque a Cíntia já tem um filhinho de três anos. Qual é o nome dele?
— Rafael.
— Quer dizer que o aborto não apenas não cura o estupro, mas até piora a situação?
— Piora a situação.
— Qual a dor que a senhora acha pior: a dor da violência do estupro ou a dor de fazer um aborto?
— Eu acho que é a dor de fazer um aborto. Porque da violência, padre, graças a Deus, por honra e glória do Senhor, eu não consigo ter nem mágoa do pai dela.
(…)
— Deus consegue fazer coisas boas até a partir dos males nossos, não é? De um crime tão hediondo, como é o estupro, Ele fez surgir uma filha tão boa para a senhora, como é a Cíntia, não é verdade?
— É maravilhosa. Uma menina meiga, boa, amiga…
— E há quem diga que filho de estuprador é um monstro, uma pessoa com tendência ao crime… O que a senhora diz disso?
— Perdão, padre, mas monstros são as pessoas que pensam desse jeito (sic!). Monstros são as pessoas que pensam assim (sic!). Uma criança, gente, não tem como ser um monstro. Ela é indefesa. Ela é simplesmente uma coisinha tão indefesa, que hoje eu estou aqui morrendo de alegria porque eu tenho uma netinha que nasceu faz três dias. Eu pego ela assim e digo: Gente, como pode ter mãe que tem coragem de fazer isso?
(…)
— No Congresso Nacional, há muita gente querendo legalizar o aborto em caso de estupro, especialmente as deputadas. Elas argumentam que quem é contra o aborto nesse caso é porque nunca passou por isso. Pois se passasse, seria a favor. O que a senhora tem a dizer para os deputados que querem legalizar o aborto em caso de estupro?
— Essas deputadas eu acho que estão no lugar errado. Os deputados estão ali para trabalhar em favor do ser humano. Eu gostaria de dizer a todos, mas principalmente às deputadas mulheres: Elas não são filhas? Elas não têm uma mãe carnal neste mundo? Se a mãe delas pensasse do jeito que elas pensam, elas teriam hoje a glória de Deus de estar sobre este mundo?
(..)
— Dizem que, se a mulher não abortar a criança, ela vai-se lembrar do estupro toda vez que olhar para o filho.
— Não, isso é mentira.
— A senhora, quando olha para sua filha, o que sente?
— Nossa! Eu sinto um grande amor. Minha filha é a melhor coisa que tem na minha vida!
Cíntia e sua mãe Carlinda, em 30/11/1997 |
Anápolis, 11 de fevereiro de 2002
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis