(luto nacional pela eleição de Lula)
“Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de chorar e tempo de rir” (Ecl 3,1.4).
É tempo de chorar. No dia 30 de outubro, segundo turno das eleições presidenciais, foi eleito presidente o ex-condenado e ex-presidiário Lula, defensor ardente do aborto e da ideologia de gênero.
Lula está obrigado, por compromisso partidário registrado em cartório, a defender as resoluções tomadas no 6º Congresso Nacional do PT[1], que incluem: “Descriminalização do aborto e regulamentação de sua prática no serviço público de saúde”; “Descriminalização progressiva do consumo de drogas. Constitucionalização dos direitos de casais homoafetivos como entidade familiar plena”.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, Lula recebeu 60.345.999 votos, ou seja, 50,90% dos votos válidos, enquanto Jair Bolsonaro recebeu 58.206.354 votos, ou seja, 49,10%. A apuração foi feita rapidissimamente. Às 19h58 do dia 30, já se divulgava que Lula estava “matematicamente eleito”[2].
Urna eletrônica
Comparando o grande apoio popular recebido nas ruas e praças por Jair Bolsonaro com a conduta reservada de Lula, que sistematicamente evitou atos públicos, era de se esperar que o atual presidente fosse reeleito já no primeiro turno.
Infelizmente, os institutos de pesquisa obstinavam-se em mostrar resultados inverossímeis, em que Lula estaria na frente das intenções de voto com muitos pontos percentuais.
E o Tribunal Superior Eleitoral, sem obedecer à norma da imparcialidade, fez tudo o que podia (e também o que não podia) para favorecer o candidato petista.
Para completar, no primeiro e segundo turno foram usadas urnas eletrônicas de primeira geração (DRE), em que o voto do eleitor desaparece no teclado sem deixar vestígio impresso. Por algum motivo, o TSE rejeitou terminantemente o uso das urnas eletrônicas de segunda geração (IVVR ou VVPAT), em que os votos são computados em duas vias independentes: a eletrônica e a impressa; a primeira garantindo a velocidade, a segunda a confiabilidade. O resultado dos votos para presidente, tanto em primeiro turno (Lula 48,43 %, Bolsonaro 43,20%) como no segundo turno (Lula 50,90%, Bolsonaro 49,10%) só veio reforçar o motivo de desconfiança nas máquinas DRE, que não atendem ao princípio da independência do “software” em sistemas eleitorais[3].
Até o fechamento desta edição, multidões inconformadas, vestidas de verde e amarelo, manifestavam-se junto aos quartéis pedindo uma intervenção militar.
O que foi feito de nossas orações?
Entre os 28 dias que separaram o primeiro do segundo turno, o Brasil orou incessantemente. Terços “on line”, rosários nas praças, jejuns, vigílias, oração em tal intensidade como talvez nunca tenha havido na população brasileira. Diante da vitória de Lula, será que as orações não foram ouvidas pelo Senhor?
Sim, Deus ouviu o clamor do povo, pois a oração tem eficácia garantida: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7-8).
Nem sempre, porém, Deus nos atende da maneira como nós imaginamos. Na Carta aos Hebreus, lê-se que Cristo, “nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte” (Hb 5,7). Aparentemente seu pedido não foi atendido. No entanto, prossegue o texto: “e foi atendido, por causa da sua submissão”. Cristo foi salvo da morte não deixando de morrer (como seria de se esperar), mas ressuscitando ao terceiro dia e sendo exaltado à direita do Pai.
Do mesmo modo, não devemos pensar que não foram atendidas nossas orações feitas em favor do Brasil nestas eleições. Não houve a derrota de Lula, que tanto esperávamos. Mas “da mão do anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus” (Ap 8,4). Os frutos dessas orações, aparentes ou invisíveis, presentes ou ainda por vir, são certos.
A prisão de Jesus foi um momento tenebroso. Ele próprio disse aos guardas: “É a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22,53). Mas em pouco tempo as trevas cederiam seu lugar à luz da ressurreição. A vitória do inimigo foi apenas aparente. Da morte de Cristo, brotou a redenção para o mundo.
É tempo de chorar. Mas, como diz o salmista, Deus recolhe em seu odre cada lágrima e anota-as em seu livro (cf. Sl 55,9). E ainda: “Os que semeiam entre lágrimas, ceifarão em meio a canções” (Sl 125,5). Ao anunciar sua partida na Última Ceia, Jesus disse: “Em verdade, em verdade eu vos digo: vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós vos entristecereis, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” (Jo 16,20).
Como ensina Santo Tomás de Aquino, “pertence à infinita bondade de Deus permitir males para deles tirar o bem”[4]. Aguardemos confiantes o bem que o Senhor pretende tirar desse mal tão grande que pesou sobre o país. Convém que não esmoreçamos nem na oração nem na ação em defesa da vida.
[1] https:/pt.org.br/wp-content/uploads/2018/03/estatuto-pt-2012-versao-final-alterada-junho-2017.pdf
[2] https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Novembro/presidente-do-tse-apresenta-numeros-do-2o-turno-das-eleicoes-2022
[3] Tais máquinas foram descredenciadas pela norma técnica para equipamentos eleitorais “Voluntary Voting System Guidelines”, que são diretrizes técnicas elaboradas pelo órgãos federais norte-americanos Election Assistance Commission (EAC) e National Institute of Standards and Technology (NIST)
[4] Suma Teológica, I, questão 2, artigo 3, resposta à primeira objeção.