(os puros de coração verão a Deus)
Segundo Jó, “é uma luta a vida do homem sobre a terra” (Jó 7,1). E segundo São Paulo, “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelo espaço” (Ef 6,10). Legiões de demônios são nossos inimigos. Eles têm um chefe, “o grande Dragão, a antiga Serpente, que é chamado Diabo e Satanás” (Ap 12,9). “Ele era assassino desde o começo e não se manteve na verdade, porque nele não há verdade” (Jo 8,44). Foi pela mentira que ele levou nossos pais ao pecado e à morte (cf. Gn 3,4-5). Ainda hoje é mentindo que ele quer induzir homens e mulheres a assassinarem os que mais refletem a imagem de Deus: as criancinhas.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) é chamado “Doutor Angélico” por dois motivos: por seu estudo sobre os anjos e por sua pureza angélica, que o levou a expulsar com um carvão em brasa uma prostituta conduzida a ele para seduzi-lo.
A pureza inclui a castidade, mas vai além dela.
Os ‘puros de coração’ são aqueles que conformaram a própria inteligência e a própria vontade às exigências da santidade de Deus sobretudo em três campos:
- a caridade,
- a castidade ou retidão sexual,
- a amor à verdade e a ortodoxia da fé” (Catecismo 2518).
Não é mera coincidência que o que pode ser considerado o maior Doutor da Igreja seja também um modelo de pureza. “A sexta bem-aventurança proclama: ‘Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus’ (Mt 5,8)” (Catecismo 2518). Há, portanto, uma relação entre a pureza e o conhecimento de Deus.
A pureza de coração é a condição prévia da visão de Deus. Desde já nos concede ver segundo Deus, receber o outro como um ‘próximo’; permite-nos perceber o corpo humano, o nosso e o do próximo, como um templo do Espírito Santo, uma manifestação da beleza divina (Catecismo 2519).
Por ser puro, Santo Tomás pôde conhecer tanto sobre Deus. Como foi grande sua pureza, grande foi sua sabedoria. E hoje, no céu, ele vê a Deus face a face.
Na luta contra Satanás e seus anjos, temos como aliados nossos anjos da guarda.
Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida (Catecismo 336).
É particularmente tocante a passagem em que Jesus fala dos anjos das crianças:
Cuidado! Não desprezeis um só destes pequenos! Eu vos digo que os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus (Mt 18,10).
Houve no Brasil uma criança, Cecy Cony (1900-1939), nascida em Santa Vitória do Palmar (RS), que teve grande familiaridade com seu anjo da guarda, a quem chamava “meu Novo Amigo”. Em sua autobiografia, é impressionante ver como o anjo zelava pela pureza de sua protegida. Quando foi à fazenda de um casal amigo de seus pais, onde havia uma cachoeira, o anjo a impediu que ela vestisse o traje de banho que lhe foi oferecido. E enquanto ela permaneceu na terra e os outros se banhavam, leiamos como conta o que aconteceu:
Meu Novo Amigo passou para minha frente e, durante todo o tempo que os banhistas permaneceram na água e depois na margem, onde formaram baile, tinha eu, pela primeira vez, na minha frente, a sombra santa e benfazeja que, supunha eu, eram as asas distendidas de meu Novo Amigo. E sempre, dali em diante, as ‘santas asas protetoras’ distenderam-se na minha frente, impedindo-me de ver o que Nosso Senhor nem ele queriam que eu visse[1].
Certa vez, ela foi a um cinema de Jaguarão (RS) e começou a ver um filme:
Duas ou três cenas haviam-se passado quando, num dado momento, sinto a santa mão de meu Novo Amigo sobre meu ombro e, como no banho da cachoeira, suas santas asas distenderam-se na minha frente, encobrindo totalmente aos meus olhos a cena que se focava na tela. Meu Novo Amigo assim permaneceu durante toda a passagem da fita, de modo que dela nada vi.
Em outras ocasiões (quero dizer, em outras fitas), suas santas asas distendiam-se por certo espaço de tempo. Depois como que se fechavam e, então, eu podia olhar na tela, mas sua santa mão permanecia sobre meu ombro, de modo que mais me ocupava com ele (pois que ele constituía as minhas delícias, na lembrança de que Jesus estava satisfeito com sua amiguinha) do que com o que me cercava. Muitas e muitas vezes, durante a passagem de uma fita na tela, as santas asas distendiam-se por tempo rápido e logo me deixavam a vista livre[2].
Certa vez o anjo a impediu de montar a cavalo em uma festa gaúcha[3]. Em outra ocasião, impediu-a de ler um livro cujo conteúdo ignorava[4]. Em outro momento, quando ela estava em um teatro, o anjo cobriu com suas asas o espetáculo que passava no palco[5].
Com essas e outras precauções, o anjo preservou a pureza daquela menina, que depois abraçaria a vida religiosa tomando o nome de Irmã Antônia.
É essa pureza angélica que eu peço a Deus, por intercessão de São José, que conceda àquelas moças que hão de compor a comunidade de irmãs pró-vida.
Anápolis, 7 de junho de 2021.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis.
[1] Cecy CONY. Vi o meu anjo: autobiografia. Anápolis: Obra da Santa Cruz, 2009, p. 113.
[2] ID. p. 115.
[3] As mulheres sentavam-se de lado na sela do cavalo. Mas, naquela ocasião, ela foi colocada sobre o animal “como se fosse um rapazinho”. Aquele modo de sentar-se não agradou ao anjo (ID. p. 36-38).
[4] ID. p. 170-173.
[5] ID. p. 162-164.