(Dom Estêvão Bettencourt. Pergunte e Responderemos, n.º 511, janeiro 2005, p. 36 a 39)
Em síntese: O livro de J. Scala sobre a Federação Internacional de Planejamento Familiar, muito rico em documentação e notícias, chama a atenção para dois pontos importantes entre outros: 1) o controle da natalidade nos países do hemisfério Sul é, em grande parte, devido à pressão dos países nórdicos, que desejam enfraquecer os povos meridionais, a fim de manter a hegemonia política; 2) a educação sexual preconizada pelos arautos dos países nórdicos incita ao sexo livre, contanto que protegido por preservativo ou anticoncepcionais.
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A obra IPPF. A Multinacional da Morte já foi sumariamente apresentada em PR 505/2004, p. 294. Visto ser farta em documentação e notícias, vão, a seguir, extraídos mais alguns tópicos da mesma, merecedores de especial atenção.
1. O Controle da Natalidade
1.1. Diminuição da População
Segundo J. Scala, a diminuição da população é prejudicial à sociedade.
“É uma constante histórica irrefutável que a perda da população de todos os povos que a sofreram por um período de tempo relativamente extenso, trouxe como consequências catástrofes para os mesmos. Nos casos em que mais perdurou a denatalidade, produziu-se o desaparecimento do povo em questão” (p. 69).
Sobre este pano de fundo escreve J. Scala:
“Os Estados Unidos da América do Norte baseiam seu domínio político, não na força das armas – ainda que as utilizem periodicamente – mas no poderio de sua economia. Ora, com um país envelhecendo progressivamente e com um moderado aumento da população graças à imigração, as perspectivas económicas a médio e longo prazo não são boas. Se a isso se acrescenta que os países do Terceiro Mundo continuam com povos jovens – e por isso mais pujantes – e com um importante crescimento populacional, o qual implica mais mão-de-obra e, portanto, a menor custo, e que o aumento do mercado consumidor garante uma maior produção e, por conseguinte, maior movimento econômico, mais tarde ou mais cedo a América do Norte perderá a liderança comercial e, ao mesmo tempo, a liderança política.
Em síntese, o conflito ‘Norte-Sul’ consiste na luta dos países ricos – liderados pelos EUA – para manter sua supremacia económica, que lhes permite dominar politicamente os países pobres. Sua estratégia é elementar. Posto que a origem do desequilíbrio atual é demográfica, e os países ricos se reconhecem incapazes de aumentar suas taxas de natalidade – o egoísmo visceral de seus cidadãos os faz estéreis em todos os campos, incluindo a rejeição da própria descendência -; em conseqüência, a ‘solução’ que dispuseram foi diminuir compulsoriamente a natalidade das nações pobres, até obter um equilíbrio entre as taxas, que assegure a continuidade da atual ordem econômica e geopolítica” (p. 15).
1.2. O Brasil no Relatório Kissinger
Henry Kissinger foi Secretário de Estado norte-americano. Assinou aos 24 de abril de 1975 um documento intitulado Memorando de Estudo para a Segurança Nacional n° 200. Implicações do crescimento da População Mundial para a Segurança dos Estados Unidos da América e seus interesses ultramarinos (NSSM 2000). Tal documento nos interessa aqui na medida em que se refere ao Brasil:
“A assistência para o controle populacional deve ser empregada principalmente nos países em desenvolvimento de maior e mais rápido crescimento onde os EUA têm interesses políticos e estratégicos especiais. Estes países são: Índia, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, México, Indonésia, Brasil, Filipinas, Tailândia, Egito, Turquia, Etiópia e Colômbia”.
Ao Brasil o Relatório Kissinger dedica um parágrafo inteiro:
“América Latina. Prevê-se que haverá rápido crescimento populacional nos seguintes países tropicais: Brasil, Peru, Venezuela, Equador e Bolívia. É fácil ver que, com uma população atual de mais de 100 milhões, o Brasil domina demograficamente o continente; lá pelo fim deste século, prevê-se que a população do Brasil chegará aos 212 milhões de pessoas, o mesmo nível populacional dos EUA em 1974. A perspectiva de um rápido crescimento econômico – se não for enfraquecida pelo excesso de crescimento demográfico – indica que o Brasil terá cada vez maior influência na América Latina nos próximos 25 anos”.
Comenta o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, tradutor do livro de J. Scala:
“O investimento maciço em controle de natalidade fez com que, no ano 2000, a população ficasse bem aquém dos temidos 212 milhões de pessoas. Segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 2000 havia apenas 169.799.170 habitantes em nosso país. Para uma área gigantesca de 8.514.876,599 km2, isso significa uma densidade demográfica de 19,94 habitantes por quilômetro quadrado, ou seja, o Brasil continua sendo um deserto humano.
Somente dois filhos
Traçava o Relatório Kissinger um de plano de combate à família numerosa:
‘A grande necessidade é convencer as massas da população que é para o seu benefício individual e nacional ter, em média, somente três e depois [‘and then’] somente dois filhos’ (destaque nosso).
No Brasil, esse plano foi cumprido à risca e obteve ‘ótimos’ resultados. Em 1960, o Brasil ostentava uma taxa de fecundidade total de 6,28 filhos por mulher em idade fértil. Esse índice foi baixando para 5,76 (em 1970), para 4,35 (em 1980), para 2,89 (em 1991) e atingiu 2,38 no ano 2000 (Fonte: IBGE, Censo Demográfico). Estamos muito próximos ao nível de estagnação de 2,1 filhos por mulher; no qual a população simplesmente pára de crescer. Abaixo desse nível, teremos um declínio demográfico. Atualmente, a mentalidade de ‘somente dois filhos’ atingiu em cheio os casais brasileiros. Para evitar os outros, usa-se habitualmente a esterilização feminina, acrescida “de anticoncepcionais ou microabortivos (como o DIU e a pílula do dia seguinte)” (pp. 333s).
2. Educação sexual
A fim de promovera contenção da natalidade no mundo inteiro, foi fundada em 1952 a Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF) sob os auspícios do multimilionário norte-americano John D. Rockefeller III: fundiram-se então numa só oito associações de vários paises em Londres. A IPPF conta hoje 178 filiais nacionais, entre as quais a da Paternidade Planificada norte-americana, É a IPPF que Jorge Scala chama “a Multinacional da Morte”.
Há mais de duas décadas, a “Multinacional da Morte” recorre à educação sexual nas escolas para favorecer a contenção da natalidade, ou seja, o exercício da genitalidade sem o risco da gravidez. Apoiada por muitos professores e vasta bibliografia, a respectiva educação sexual é ministrada segundo seis princípios básicos, a saber:
“1°) Cada aluno deve elaborar sua própria moral sexual, diferente da de seus pais (exagera-se o conflito de gerações, com o fim de que a criança tenha um critério diferente do de seus pais, que lhe pareça próprio, mas que na realidade é o imposto pelo educador sexual permissivo);
2°) Há muitos tipos de união sexual, todos de idêntico valor social: matrimônio (jamais ele é apresentado como indissolúvel), concubinato, co-habitação, acasalamentos ocasionais, homossexualismo ou lesbianismo etc.;
3°) A única diferença entre uma mulher e um homem é a anatomia de seus órgãos genitais (procura-se assim negar a realidade da feminilidade e da maternidade que a acompanha, e a masculinidade e a paternidade dela derivada);
4°) O sexo serve fundamentalmente para se procurar o máximo de prazer; depois e secundariamente, utiliza-se para a reprodução;
5°) O sexo é bom (também moralmente), só na medida em que me dá prazer; por isso devem-se eliminar os medos da gravidez e das doenças sexualmente transmissíveis através do “sexo seguro” (que é definitivamente o objetivo final da matéria);
6°) A única irresponsabilidade e imoralidade sexual é o uso dos órgãos genitais sem a devida proteção, contraceptiva ou preventiva de enfermidades venéreas. Por isso, as classes de educação sexual permissiva terminam convertendo-se em um verdadeiro marketing de profiláticos e anticonceptivos (abortivos ou não).
As consequências desta visão hedonista, falsa e reducionista da sexualidade humana estão à vista…
Em nível estatístico, pode-nos servir a seguinte citação de um relatório da associação norte-americana Focus on the Family:
“Desde 1970, o governo dos Estados Unidos tem investido cerca de 3 milhões de dólares na promoção de contraceptivos e ‘sexo seguro’ entre os adolescentes, com o suposto fim de evitar doenças venéreas e casos de gravidez; a partir de 1970, os casos de gravidez em jovens solteiras de 15 a 19 anos aumentaram em 87%; a cifra de abortos juvenis subiu em 67%; os nascimentos fora do matrimônio aumentaram em 61% e as doenças venéreas converteram-se em endémicas em toda uma geração de jovens…” (pp. 247s).
Tais informações explicam o caráter candente da disputa em torno do controle da natalidade. É benemérito o advogado Dr. Jorge Scala por transmiti-las, juntamente com outros dados, ao grande público.